Os quase 900 anos de
História de Portugal são uma mina que a BD por cá aproveitou quase sempre para
obras de teor essencialmente didáctico, mas de pouco brilho narrativo. O que
não seria, se este filão fosse aproveitado por argumentistas da craveira de
Charlier, Greg ou Van Hamme, que por cá não houve, não se sabe bem porquê? Há
excepções, claro; e uma delas foi a do saudoso Jorge Magalhães (1938-2018), que
fez o que pôde. Em Giraldo o Sem Pavor (1986),
Magalhães deixa brilhar um talento com 20 anos, à data da elaboração destas
páginas: José Projecto (Évora, 1962), apregoado e evidente admirador de
desenhadores como Auclair, Rosinski e Segrelles.
Geraldo Geraldes, “o Sem
Pavor”, é uma dessas figuras reais cobertas pelo mito, uma das muitas
personagens dum passado a pedir autores. Cavaleiro nobre, mercenário, chefe de
salteadores, quando lhe convinha guerreava ao lado dos mouros contra os
cristãos como ele. Praticante do fossado, incursão relâmpago no reduto inimigo,
tinha, qual guerrilheiro, rectaguardas inexpugnáveis.
Estamos diante duma caça ao
homem: depois de matar um cavaleiro de D. Afonso Henriques, Geraldo é
perseguido até alcançar refúgio entre os sicários que comanda, não sem antes
pernoitar numa casa isolada, onde uma mulher o aguarda. Um pretexto para
desenhar cenas de combate, belas figuras humanas e animais de vário tipo, algo
que Projecto faz com verificável gosto e competência.
José Projecto & Jorge Magalhães, Giraldo o sem Pavor
José Projecto & Jorge Magalhães, Giraldo o sem Pavor
edição: Futura, Lisboa, 1986
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