quinta-feira, 30 de julho de 2020

Casty

Pseudónimo de Andrea Castellan é um dos grandes autores actuais da BD Disney em Itália, nomeadamente das histórias do Mickey, a que veio dar um novo fôlego. A Panini Brasil editou A Ilha de Quandomai, história clássica de naufrágio e chegada a uma ilha ausente dos mapas, com todas as promessas de aventura que encerra.


quarta-feira, 29 de julho de 2020

vida e morte

Uma das qualidades de Maurício de Sousa é a forma com que desde cedo abordou assuntos não evidentes para o público infanto-juvenil a que se destinava. Penadinho e a turma do cemitério é um desses exemplos de humor bem conseguido, abordando um tema pesado. Na colecção Graphic MSP, também da Panini, a dupla Paulo Crumbim e Cristina Eiko reescreve este mundo fantasma, num livro intitulado Vida.



terça-feira, 28 de julho de 2020

um dia de fúria

Do Extremo-Oriente à Europa, o vírus foi mais rápido a chegar que as pulgas no lombo dos ratos da Peste Negra. Em Itália, caixões amontoados, médicos e enfermeiros esgotados; logo depois, a Espanha, razia nos lares; por cá, toda a gente em casa ainda antes de o Governo mandar. Só foi bom para os cães, nunca antes tão passeados; havia quem os tivesse para alugar àqueles que legalmente queriam desconfinar sem ter a polícia à perna.
Pelas páginas de A Batalha, “jornal de expressão anarquista” fundado há um século, chega-nos um encarte para dobrar e montar com uma BD de Max (Barcelona, 1956), um do nomes mais destacados da BD espanhola, desde os tempos do fanzine underground fotocopiado ao reconhecimento do Poder, atribuindo-lhe o primeiro Premio Nacional de Cómic, em 2007. Um luxo, portanto.
Desgastado, à terceira semana o autor amarrou a paciência diante da televisão e dos conteúdos gratuitos da internet e apresentou um panfleto e catarse sobre o efeito que estes dias desgraçados tiveram sobre si, desabafo “escrito depressa e mal em Abril de 2020, durante o Confinamento”.
Manifestamente Anormal transmite-nos toda a fúria duma personagem que se supõe ser alter ego de Max, e ninguém escapa: a começar pelo rei até aos reles concidadãos que deixavam bilhetes à porta da casa do vizinho profissional de saúde, para que se pusesse ao largo, depois de vir do trabalho onde arriscava a vida para salvar as dos outros; ou ainda os prestimosos denunciantes de varanda, que, após palminhas dirigidas aos heróicos médicos e enfermeiros (que certamente viviam noutro prédio), telefonavam à polícia apontando este e aquele que andavam na rua ilegalmente. Manifesto desapiedado contra a anormalidade do tempo pandémico, cáustico e vociferante com os que se iam esquecendo de ser pessoas para se transformarem em bichos acossados pelo medo.
O desenho minimalista é de grande eficácia e a “mensagem” acerta em cheio no alvo: nós, os confinantes até nova ordem de soltura, enchendo-nos de doestos e pontapés no traseiro, para que não nos esqueçamos que estar engaiolado é mais próprio de animais de capoeira.
Mas como a liberdade dos outros é pelo menos tão preciosa quanto a nossa – em especial a liberdade de poder andar livremente na rua sem que um desmascarado inconsciente nos faça a doação das suas gotículas, enviando-nos directamente para o cemItério, que fazer?, perguntamos.
O nosso herói esgotado de tanto vociferar, fica-se desapontado pelo alvéolo que lhe serve de habitação, e adormece.

Manifestamente Anormal
texto e desenhos: Max
encarte de A Batalha #288-289
Lisboa, Centro de Estudos Libertários, Mar/Jun 2020

segunda-feira, 27 de julho de 2020

errância


Théo é um jovem marinheiro do porta-helicópteros “Jeanne d’Arc”, com a paixão do mar e o apelo da viagem. R97 é o registo da embarcação, mas os habitantes de Brest, onde se situa a base naval que o acolhe chamam-lhe “La Jeanne”. O grumete foi influenciado pela leitura de Robert Louis Stevenson, Herman Melville e Joseph Conrad, e anseia por vencer os oceanos, atingir outros portos, outros cheiros, outras cores. Mas o próprio navio é um microcosmos em si, daí o título principal deste romance gráfico editado na colecção “Air Libre” da Dupuis, com texto de Bernard Giraudeaux e desenhos de Christian Cailleaux: R97 – Les Hommes de la Terre, Marcinelle, 2020.


domingo, 26 de julho de 2020

armadilha no Mar Vermelho

Escritora e jornalista inglesa, Renée Stone desloca-se à Etiópia em Outubro de 1930, para fazer a reportagem da coroação do imperador Hailé Selassié. Na velha Abissínia conhecerá um arqueólogo John Mallowan, tão voluntarioso quanto desajeitado, formando um duo demasiado curioso e original para passar incólume num mundo à beira da extinção, pelos interesses contraditórios das grandes potências. No segundo tomo, texto de Julie Birmant e desenhos de Clément Oubrerie, uma tabuinha de argila com inscrições do rei assírio Assurbanípal, detentor da maior biblioteca da antiga Mesopotâmia, levam-nos à velha Nínive. Edição Dargaud, Paris, 2020.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

«A Lei do Trabuco e do Punhal»


Um país que sobrevive às razias que Portugal sofreu em boa parte do século XIX, aguenta tudo, incluindo troikas e covides. Vejamos: três invasões francesas, retirada estratégica da corte para o Brasil, regência britânica, revolução constitucional, guerra civil devastadora entre liberais e absolutistas, 3-Constituições-3, ingerência externa armada, as estradas do país tomados de assalto do Minho ao Algarve – do Remexido à Maria da Fonte e Padre Casimiro...
É neste período dramático e fascinante, em que era mais seguro viajar de Lisboa ao Porto por mar que por terra, o tempo de Garrett e Herculano, que se situa a acção de Mataram-no Duas Vezes (1987), primeiro álbum da projectada série A Lei do Trabuco e do Punhal, infelizmente sem continuidade, com texto de Luís Avelar (n. 1955) e desenhos de Pedro Massano (Lisboa, 1948).
O território é o interior beirão, Avô, Benfeita, Midões – nomes que hoje só dizem algo a poucos mais que aos que lá vivem, terras de Oliveira do Hospital, Arganil, Tábua... e a personagem central é João Brandão (1825-1880), o “régulo” ou “o terror das Beiras”, misto de bandoleiro e político, um cacique dentro e fora da lei.
O álbum dá-nos um bom enquadramento histórico inicial, sequenciado por três narrativas em que o pretexto é a caça a João Nunes, o Ferreiro, aquele que virá a morrer “duas vezes”, inimigo jurado, pessoal e “político” – passe o exagero de atribuir qualquer desígnio político à cacicagem – deste salteador letrado, que permaneceu no imaginário popular.
Se não se trata de uma obra-prima, Mataram-nos Duas Vezes é uma assinalável realização da BD portuguesa. Ao contrário do que se via em muitas das suas congéneres, a informação histórica prestada ao leitor não é metida a martelo na boca das personagens, soando tantas vezes a falso, mas assumidamente fornecida através de asteriscos ou em vinhetas próprias para o efeito. Se o trabalho de Pedro Massano respeitante às fisionomias nem sempre nos agrada, é notável o tratamento dado a cada prancha, com planos visualmente muito fortes e um saudável desrespeito pelos limites das vinhetas.
Lembrando uma carta de Eça de Queirós a Oliveira Martins, entusiasmado após a leitura de Os Filhos de D. João I (1891), exortando o historiador a pegar nas incontáveis personagens sedentas de biografia e outras abordagens que povoam o nosso passado, este podia e pode ser um dos caminhos para os quadradinhos portugueses. Uma das pranchas mais notáveis é a que identifica, desfilando a cavalo, os sicários de João Brandão: o Juliana, a ferocidade em forma de homem; o Gralha, fala-barato, sempre com um corvo ao ombro; o Anjinho, alcunha apropriada para um violador; o Palaio, muito religioso, benzia-se antes de matar; o Venta Larga, feio como o nome, mas de tiro certeiro; o Faca de Mato, sempre munido dum cutelo de magarefe, com que extirpava quem lhe fizesse frente. Criaturas que só esperam um argumentista à Charlier ou à Dorison que os venha chamar do Inferno, o seu habitat natural.

A Lei do Trabuco e do Punhal – Mataram-no Duas Vezes
texto: Luís Avelar
desenhos: Pedro Massano
edição: Europress, Odivelas, 1987

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Léonard

Uma paródia a Leonardo da Vinci esta série criada em 1975 por Turk e de Groot. As invenções são múltiplas algumas inesperadas, como sucedia com as do próprio Leonardo. A dupla Turk & de Groot, vinda desde o início dos anos 70 com o genial Robin Dubois (ou Robin da Mata, entre nós) desfez-se e desde 2016 que é Zidrou a assegurar os argumentos. Neste 51.º álbum, Léonard inventa… o crime organizado. Léonard – Génie du Crime, Le Lombard, Bruxelas, 2020.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

o melhor amigo do cão

O autor espanhol José Fonollosa é voluntário numa associação de abrigo e protecção canina. A experiência de cuidar destes animais carentes é-nos dado num álbum ternurento e de traço suave. Refugio, Grafito Editorial, Valência, 2020.


segunda-feira, 20 de julho de 2020

a nossa companheira morte

À morte, o melhor será olhá-la de esguelha, pois sabemos que ela está sempre por perto, à espera, à espreita. E esse olhar convém que seja gelidamente irónico. L. L. de Mars, suíço, também escritor e ilustrador, publica uma série de tiras que a mostra na faina diária junto dos mais ou menos incautos. Com humor, como podemos ver na capa, fazendo uma selfie junto a uma das suas telas preferidas, A Ilha dos Mortos (1880) do também suíço Arnold Böcklin.

um amor à face da exclusão

Favela”: sabemos o que é, mas não a origem da palavra... O Morro da Providência, também conhecido por Morro da Favela é a mais antiga aglomeração do género no Rio de Janeiro, iniciado por veteranos da Guerra de Canudos, a quem foram prometidas casas quando regressassem das operações. Fartos de esperar, ocuparam uma elevação no local da Providência, lembrando o morro da Bahia – onde vicejava a favela, tipo de arbusto endémico –, de onde faziam pontaria aos homens de Antônio Conselheiro, “profeta” milenarista que sublevou os miseráveis da região, dando origem às campanhas de Canudos, descrita numa obra-prima da nossa língua, Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e também motivo do extraordinário romance de Mario Vargas Llosa, A Guerra do Fim do Mundo (1981).

Morro da Favela, de André Diniz, agora em segunda edição portuguesa, aumentada, é a quadrinização (palavra horrível) do relato autobiográfico do fotógrafo Maurício Hora (1968), nado e criado no morro, filho de um bicheiro tornado um dos primeiros traficantes de maconha do local, que, após duas prisões, decide poupar-se e à família, passando a trabalhar na estiva. De acordo com os critérios de hoje, Maurício cresceu numa família disfuncional. Pai pouco dado a rotinas, mas sempre presente quando não estava preso, mãe com episódios esquizóides, irmãos, além dos avós, referências de estabilidade. O que Maurício Hora transmite através dos quadrinhos de André Diniz, traduz-se, por paradoxal que pareça, numa certa felicidade, uma nostalgia por esse país da infância, em que o amor existia, apesar dos crimes, do medo, em particular da polícia, boa parte comportando-se como bandidos com farda e melhor armados. Acima de tudo, Maurício veicula uma grande empatia, sempre vizinha do amor, que preenche também o coração de Maurício – demonstra-o o fotógrafo e o activista sócio-cultural. Na Favela há gente como todas as outras, gente boa e de trabalho, quantas vezes alvo da violência do Estado, ou capturadas pelo tráfico, que ali dita a lei; e há sobretudo uma invisibilidade para quem vive no asfalto, junto à linha de costa, circunstância que o fotógrafo tem vindo a contrariar, como artista e dinamizador social, procurando dar voz a quem a não tem.
Se a matéria de que se faz esta narrativa – o depoimento de Maurício Hora – é só por si de primeira grandeza, que dizer do trabalho de André Diniz? Em primeiro lugar a estrutura narrativa disposta como uma espécie de romance de formação. Do ponto de vista gráfico, a opção pelo fundo negro realça as linhas dos desenhos, os espaços em branco, as notáveis expressões das figuras, integralmente num preto e branco que nos faz colar os olhos às páginas, um percurso que termina com uma única vinheta colorida, o sorriso de Dona Iracema e o lado bom e fraterno da entreajuda em comunidade.
André Diniz e Maurício Hora pertencem àquela família de artistas cuja estética é servida por uma ética. O mundo é demasiado interessante na sua complexidade para confinar-se aos arredores do umbigo.

Morro da Favela
texto e desenhos: André Diniz
fotografias: Maurício Hora e
Augusto Malta / Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
2.ª edição, Polvo, Lisboa, 2020

sexta-feira, 17 de julho de 2020

The Lisbon Studios Series

Vários autores que integram o colectivo The Lisbon Studios associaram-se em álbuns sujeitos a mote. Depois de Cidades, Silêncio e Viagens, vem agora a lume o quarto título, sobre as Raízes. “Onde estão as raízes de cada um? No passado, nas memórias? Num sítio? Numa família ou grupo? Em que se enraízam as palavras e imagens?”– lê-se no press release. Autores: Ana Branco, Bárbara Lopes, Filipe Andrade, Marta Teives, Nuno Saraiva, Pedro Moura, Quico Nogueira e Ricardo Cabral; prefácios de André Diniz e Patrícia Furtado. Edição: A Seita, Lisboa, 2020.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

30 anos de História com Spirou

Depois de números consagrados a Uderzo e a Morris, a publicação Historia BD #3 dedica as suas páginas a Franquin, passando em revista o tempo e os tempos que acompanharam o genial autor belga, no período em que se dedicou às histórias do groom do Hotel Moustique: Spirou par Franquin et les Trente Glorieuses – 1945-1975, Paris, Julho de 2020.


terça-feira, 14 de julho de 2020

Schtroumpfs

Com argumento de Alain Jost e Thierry Culliford (filho de Peyo), desenhos de Miguel Díaz Vizoso e cores de Nina Culliford, os Schtroumpfs chegaram ao 38.º álbum. Quando têm de deslocar-se a paragens longínquas, estes pequenos seres azuis da floresta dispõem de linhas áreas próprias para o efeito: as cegonhas… Após uma visita ao mago Homnibus, por ocasião do seu aniversário, algo sucedeu quando se preparavam para regressar. Les Schtroumpfs et le Vol des Cigognes, Le Lombard, Bruxelas, 2020.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

«Kim Kebranoz e os Táxis Vemelhos»

Bento Torceferro” poderia seu uma tradução literal do nome da personagem de hoje, Benoît Brisefer; porém, o tradutor optou pelo mais sonante “Kim Kebranoz”, e está certo. “Torce” ou “quebra”, porque o nosso herói, apesar de miúdo educado e gentil, muito atilado em sua indumentária, calções pretos, casaco vermelho, cachecol e boina basca de que nunca se separa, é um inusitado detentor de superpoderes. Mais forte que Sansão, mais rápido que o Flash da DC, pulmão tão devastador quanto o de Éolo, deus dos Ventos, salta, quase em voo, como se usasse botas de sete léguas. Apesar de nunca ter crescido, desde que em 1960 apareceu nas páginas da revista Spirou, julgamo-lo também imortal, como o Super-Homem, tendo também o seu calcanhar de Aquiles, não a kryptonite, mas o vírus da gripe, pois quando se constipa, Kim Kebranoz volta a ser uma criança igual às outras; mas ao contrário dos super-heróis, não faz questão de ter identidade secreta, só que o seu melhor amigo e companheiro de aventuras, o Sr. Vicente, velho taxista e ex-músico de jazz, nunca presencia os feitos do rapaz, atribuindo-lhe os relatos à imaginação fértil.
O autor é Pierre Culliford (1928-1992), mais conhecido por Peyo, já então autor da bela série medieval humorística Johan et Pirlouit, de onde surgirão os Schtroumpfs, – duns e doutros também aqui falaremos. Assoberbado pelos compromissos com várias séries a cargo, irá socorrer-se do seu camarada Will (Willy Maltaite, 1927-2000), desenhador da série Tif et Tondu, que se encarregou dos cenários, em particular dos edifícios, ruas e jardins da Vila Girassol (Vivejoie-la-Grande, no original).
Em Kim Kebranoz e os Táxis Vermelhos, primeiro titulo, uma moderna empresa de rádio-táxis instala-se na localidade. O negócio é porém uma fachada para um golpe épico sobre os bancos e demais comércio de valores da Vila Girassol, além de arruinarem o pobre do Sr. Vicente com concorrência desleal e sabotagem. O plano seria perfeito, mas não contavam com o fenómeno Kim Kebranoz – ele bem tentara avisar os adultos, que obviamente não lhe ligaram nenhuma –, que porá todos os grãos de areia na engrenagem, conseguindo ainda, pelo meio de todas peripécias, fazer-se raptar, indo parar a uma ilha, quase deserta, do outro lado do Atlântico.
Um álbum infanto-juvenil na sua génese, hoje irresistível para a faixa de “todas as idades”, ou “dos 7 aos 77”, para citar o semanário rival... O talento de Peyo, o dinamismo das vinhetas, sulcando e desarrumando o alinhamento clássico em prancha é bom de se ver, a que devemos acrescentar a destreza narrativa “folhetinesca” da história em continuação, ao longo dos meses em que se foi publicando, cada semana terminando em suspense ou com um gag.
Acrescente-se a curiosidade de esta edição portuguesa, de 1962, com a chancela da União Gráfica, editora ligada à Igreja Católica, ocorrer no mesmo ano da publicação do original na Bélgica, pela Dupuis.

Kim Kebranoz e os Táxis Vermelhos
Texto: Peyo
Desenhos: Peyo e Will
Edição: União Gráfica, Lisboa, 1962

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Louro & Simões


Na década de 1980, num meio editorial quase desértico a Editorial Futura, sempre pela mão diligente e culta de Jorge Magalhães, trazia aos quadradinhos portugueses uma das suas personagens humorísticas mais emblemáticas: Jim del Mónaco, da autoria de uma dupla que só por esta série ficará na história: Luís Louro e Tozé Simões. Louro, entretanto, empreendeu um percurso profissional, sendo um dos mais destacados autores da actualidade. Anuncia-se agora a recolha doutras história da dupla, dispersas por antigas publicações, com o humor mordaz que era seu apanágio. Universo Negro, edição Escorpião Azul, 2020.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

manga

Emilyko é a boneca preferida de Kate Shadow, a criança protagonista desta história. Acontece que a boneca é viva e Kate não tem rosto, como, de resto, a sua família. Shadows House ou a casa da família Shadow, um manga de ambiente vitoriano e quase contranatura – as pupilas gigantescas da BD japonesa estão aqui ausentes, pelo menos numa das protagonistas. Autoria da dupla Sô-ma-tô, volumes 1 e 2, Glénat, 2020.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

mutante

Criado em 1974 por Roy Thomas, Len Wein e John Romita Wolverine é das personagens mais interessantes da parafernália Marvel, um assassino de bom coração… Em Wolverine: Logan, texto de Brian K, Vaughan e Eduardo Risso, o mutante está no Japão, em processo de autoconhecimento e regeneração. Edição G-Floy, 2020.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

ideias peregrinas

Zé Nuno Fraga (n. 1974), após ter trocado a engenharia pelos quadradinhos, cuja estudo e prática aprofundou na Galiza, apresenta-se ao grande público com a adaptação da peça A Assembleia das Mulheres, de Aristófanes. O comediógrafo (e poeta) da Grécia Antiga fez representar o texto pela primeira vez em Atenas, em Janeiro de 392 a.C., num concurso teatral realizado durante as festas dionisíacas das Leneias. Perdeu; porém tratou-se dum belo insucesso, considerando os dois milénios que o texto já atravessou…
Aristófanes parodia a ideia que advogava a possibilidade de o governo da polis ser entregue às mulheres. Perante a crise que assolava Atenas, decorrente da longa Guerra do Peloponeso, travada com Esparta, um grupo de mulheres lideradas por Praxágora, disfarçadas de homens, propõe numa assembleia uma mudança de paradigma: já que o sexo masculino havia governado tão mal, era altura de tentar um governo exclusivamente delas. Mas havia mais: as leis seriam alteradas: deixaria de haver propriedade e bens particulares, tudo fazendo parte de um fundo comum. Os escravos, obviamente estavam fora desta medida, pois a democracia era só para os atenienses.
O longo diálogo entre Praxágora e o marido, convencendo-o da bondade do novo sistema, corre de feição, mesmo quando lhe é comunicado que homens e mulheres podem dormir com quem quiserem e que os filhos passarão a ser de todos os pais e mães. A forma como Fraga consegue contornar a dificuldade óbvia em reproduzir esta troca de argumentos entre o casal, é plenamente conseguida, ao longo de dez pranchas, tão cheias de movimento como de filacteras, e com um traço caricatural que se casa bem com o texto.
Se a utopia perseguida até hoje pelos visionários, poderia fazer sorrir o público ateniense nesse Janeiro de 392 anterior à nossa era, a irrisão surge quando a igualdade sexual passa a ser imposta por forma a não deixar ninguém para trás, como se leria hoje num cartaz político: antes dos jovens, havia que satisfazer os velhos, sob pena de avultada sanção em caso de incumprimento, antes dos belos os feios, e à frente dos saudáveis, os aleijados. Estamos já no domínio do grotesco, e que disputas se nos apresentam, por Zeus! De tal forma que a fome aperta. Está pois na altura de iniciar-se o banquete, prazeres da mesa e da mente, e de um prato especial, o Lopadotemakhoselakhogaleokranioleipsanodrimypotrimmatosilphiokarabomelitokatakekhymenokikhlepikossyphophattoperisteralektryonoptekephalliokinklopeleiolagōiosiraiobaphētraganopterygṓn –, um guisado imaginado pelo autor. Com ele Aristófanes brindou-nos, não com dotes culinários, mas com aquela que ainda hoje se considera a mais longa palavra jamais escrita.
Ao substituir um género por outro à frente dos destinos da cidade, cabe perguntar se estaria assim tão longe da ideia de “paridade”, como Platão viria a defender em A República, ainda que Aristófanes não parecesse partilhar do mundo ideal do filósofo, antes preferisse o gosto de meter a mão na massa...

A Assembleia das Mulheres
Texto: Aristófanes
Desenho: Zé Nuno Fraga
edição: A Seita, Prior Velho, 2019


sábado, 4 de julho de 2020

era uma vez o muro

Várias histórias de um autor alemão, Flix, recordando em conversa com outros que passam o tempo em que havia duas Alemanhas, um muro a separá-las e uma realidade nem sempre linear: Aqui Já Houve Algo – Memórias Deste e do Outro Lado, edição Polvo, 2020.


quinta-feira, 2 de julho de 2020

piratas

A pirataria conta com mais uma personagem de BD: Raven, um jovem audaz defrontando um governador corrupto, uma comandante de flibusteiros que dá pelo nome de Lady Darksee – uma venda no olho, uma homofonia com o negrume do mar da pirataria…– tudo ambientado no Caribe, como teria de ser. Texto e desenhos de Mathieu Lauffray, autor que gosta de cultivar o género, responsável pela série Long John Silver – para quem se não lembra, o perna-de-pau de A Ilha do Tesouro (1883), do escocês Robert Louis Stevenson –, com argumento de Xavier Dorrison. Edição Dargaud, Paris, 2020.