segunda-feira, 31 de maio de 2021

até ao último homem

 


Russell pendura as esporas de cowboy e estabelece-se como rancheiro no Montana. De passagem por Sundance, um rapaz seu protegido, com problemas cognitivos aparece morto. Perante a indiferença das autoridades, que alegam acidente, seguida de hostilidade, expulsando-o da cidade. Russell regressa, mas não sozinho, O que se passou terá de saber-se. Um western a que voltaremos, O Último Homem..., argumento de Jérôme Félix e desenhos de Paul Gastine, Gradiva, 2021.

«Leitor de BD»

domingo, 30 de maio de 2021

três mulheres para Lucky Luke


Depois do maravilhoso O Homemque Matou Lucky Luke, publicado originalmente para celebrar a personagem criada por Morris, Matthieu Bonhomme regressa com Procura-se Lucky Luke. E por quem é ele wanted? Por bandidos, decerto, mas também por três-mulheres-três, pondo à prova o vezo solitário do cowboy. Também a este pretendemos regressar. Edição A Seita, 2021.

«Leitor de BD»

quarta-feira, 26 de maio de 2021

o regresso de Dex Parios



A dona da Stumptown Investigations, viciada em jogo, bissexual e com sex-appeal, em diligência particular: num jogo dos Portland Timbers, um seu amigo é espancado, e Dex irá no encalço dos agressores, na única oportunidade que terá para caçá-los. Para tal, contará com a ajuda de CK Banes, uma detective privada negra de Seattle. O Caso do Rei de Paus, de Greg Rucka e Justin Greenwood, edição G-Floy, 2021.

«Leitor de BD»



quarta-feira, 19 de maio de 2021

demasiado humanos

 


Todas as civilizações têm as suas cosmogonias. No caso do Ocidente, ela é compósita e sincrética: o Génesis bíblico bebe da Mesopotâmia, quando não do Indo; os mitos de origem na Grécia Antiga têm também fonte oriental, embora o seu conhecimento escrito, através da Teogonia de Hesíodo (séc. VIII), seja anterior ao das tabuinhas em argila em escrita cuneiforme, decifrada pelos arqueólogos do século XIX. O Cristianismo, que cobriu a mitologia europeia com os seus anjos, santos e datas festivas foi menos sucedido nessa ocultação com a Grécia, por causa de Roma, sobre a qual assentou o edifício que até hoje perdura. Diga-se, porém, que muitos espíritos cultos da Antiguidade olhavam já com bonomia para estas fantasias de deuses e heróis. A religião, então como agora, era para os simples e para os místicos; mas do ponto de vista da estética e do imaginário, todo aquele panteão olímpico pejado de divindades demasiado humanas nos seus defeitos e qualidades, era maravilhosamente sugestiva para se deitar fora – de Camões a Stan Lee... Assim o entendeu Frei Bartolomeu Ferreira, o esclarecido censor dos Lusíadas, que muito se deve ter divertido ao ver os seus portugueses como povo dilecto de Vénus: Toda via como isto he Poesia & fingimento, & o Autor como poeta, não pretende mais que ornar o estilo Poetico não tiuemos por inconueniente yr esta fabula dos Deoses na obra, conhecendoa por tal, & ficando sempre salua a verdade de nossa sancta fe”. A cosmogonia grega, pois, como um dos fundamentos da nossa cultura, que deveria ser aprendida desde cedo na escola, uma utopia.

O didactismo em BD tem perigos e as adaptações requerem quem maneje a linguagem dos quadradinhos. O projecto “A Sabedoria dos Mitos” do filósofo e político Luc Ferry (Colombes, 1951), tem como guionista Clotilde Bruneau (Paris, 1987), com uma obra já vasta neste domínio. Da origem de tudo (“No início era o caos”) ao surgimento da Terra (Gaia, gerada se si própria), em cópula permanente com o Céu (Urano); da geração dos Titãs, dos Ciclopes e dos Hecatonquiros, todos aprisionados por Urano no ventre de Gaia por temor daquele, à revolta de Cronos/Saturno, castrando o pai, mas que, pelas mesmas razões devora os filhos que tem de Reia/Cibele. A este destino escapa um, graças a Reia: Zeus/Júpiter. Tornado adulto, Zeus desafia Cronos. Todos sabemos quem foi o vencedor. O como é-nos dado de forma épica.

Uma curiosidade: as primeiras pranchas, do Caos à afirmação de Cronos, estão a cargo de Dim. D (Paris, 1977), ou a BD influenciada por Turner ou Friedrich, grandes pintores pré-românticos; as pranchas seguintes, num registo necessariamente tradicional, são do italiano Federico Santagati, não por acaso um nome da Marvel.


O Nascimento dos Deuses

texto Luc Ferry, Clotilde Bruneau

desenhos: . D, Federico Sanatagati

edição: Gradiva, Lisboa, 2020

«Leitor de BD»

terça-feira, 18 de maio de 2021

Tex

 


O ranger criado pelos italianos Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini em 1948 continua a ter apreciadores por todo o lado. Entre nós, durante muitos anos fornecidos por revistas brasileiras, temos duas editoras com colecções que lhe são dedicadas: a Polvo e A Seita. Desta, saiu recentemente A Chicotada, uma história de fronteira, de Pasquale Rujo (argumento) e Mario Milano (desenhos).


quinta-feira, 13 de maio de 2021

o retorno do náufrago

 


Narcisse Pelletier foi um marinheiro da Vendeia, que ao 14 anos naufragou ao largo da Austrália, Ao fim de 17 anos de convívio e integrado pelos aborígenes, foi resgatado pelos ingleses. Regressado ao país natal, sente dificuldades de adaptação e é visto com desconfiança pelos conterrâneos. O relato das suas vivências foi recolhido por um sábio local. A partir desta história, Chanouga escreveu e desenhou Narcisse em três albuns, agora publicados em conjunto pela Paquet.

«Leitor de BD»

o Homem de Neaderthal não desapareceu

 


Pelo menos no universo criado por Nicolas Puzenat, passando-se período tardo-medieval, em que as relações sempre difíceis entre as duas raças humana, Sapiens e Neandertal, atingem um ponto baixo. Será um jovem médico, Timóleon de Veyres, nomeado pelo príncipe como emissário junto desses homens estranhos e primitivos. Na sua companhia vai Pontus, amigo fiel mas cobardolas. Edição Sarbacane, Paris, 20121.

«Leitor de BD»


quarta-feira, 12 de maio de 2021

uma arqueologia do Zorro

 



Zorro, nome espanhol para raposo, bicho astuto, é uma personagem criada por Johnston McCulley (1883-1958), surgido em 1919 na revista pulp All-Story Weekly, inspirada noutra figura embuçada, o Pimpinela Escarlate, gentleman inglês que salvava nobres franceses da guilhotina, durante a Revolução – criação da Baronesa Orczy em 1903 –, e em Joaquín Murieta (1829-1853), bandoleiro ou resistente ao domínio gringo da Califórnia, integrada nos Estados Unidos, a partir de 1848. A carreira é longa no cinema, na televisão e, obviamente, nos quadradinhos, através de uma multidão de desenhadores e argumentistas, como Warren Tufts, autor dos westerns Casey Ruggles e Lance, e Alex Toth, um dos criadores de Torpedo, esplêndida série noire. Por cá, Zorro chegava-nos dentro dos Patinhas, também com o concurso de autores do Brasil, argumentos de Ivan Saidenberg, o criador do Morcego Vermelho, e Primaggio Mantovi, autor de uma notável série humorística sobre o circo, Sacarrolha. e desenhos de Walmir Amaral e Rodolfo Zalla.

Don Diego de La Vega é filho de um grande proprietário na Califórnia espanhola. Mantendo um perfil discreto de dândi despreocupado e até cobarde, esconde a identidade secreta de um justiceiro mascarado, atlético e exímio no uso da espada, pistolas e chicote. Vestido de negro e com um cavalo do mesmo tom, “Tornado”, parece figura satânica pondo em sentido a guarnição de lanceiros do rei de Espanha aquartelada em Los Angeles, chefiadas pelo pérfido Capitão Monastério, oprimindo o povo miúdo com exacções de impostos e brutalidades várias. Don Alejandro, o pai, Bernardo, criado mudo, e o pitoresco Sargento García, o melhor amigo de Diego que odeia o Zorro, fazem o elenco principal desta espécie de Batman/Bruce Wayne avant-la-lettre, cuja marca não é um morcego projectado ao luar, mas um Z golpeado a lâmina na farda, quando não no rosto dos contendores...

Em Don Vega, o francês Pierre Alary (1970) avança no tempo histórico, mas recua no da narrativa, milagres da ficção. Estamos já numa Califórnia pós-mexicana, em que as vastas terras dos Vega foram tomadas por um Capitão Gomez, explorando os homens dos povoados abrangidos no trabalho das minas, mancomunado com um ex-militar, Borrow, antigo mestre de esgrima de Don Vega. Este é chamado de Espanha pelo padre, afim de acorrer à situação calamitosa da família e do povo. Aí chegado, vai encontrar um território dominado pelo terror, em que os populares alimentam uma crença salvífica numa personagem lendária a que chamam Zorro, defensor dos fracos e oprimidos, mito que Don Vega irá corporizar. Não é, pois, ainda o Zorro que conhecemos. Um álbum com bons achados, uma montagem dinâmica, com recurso generoso a grandes vinhetas, nas suas 89 pranchas, e uma boa opção pelos tons amarelados e azuis para cenas diurnas e nocturnas, de acordo com a aridez do meio. Só é pena Alary, ali ao lado de Espanha, não saber que Don é um tratamento distintivo nos países de língua castelhana aplicado ao nome próprio e não ao apelido.


Don Vega

Texto, desenhos e cores: Pierre Alary

edição: Dargaud, Paris, 2020

«Leitor de BD»

terça-feira, 11 de maio de 2021

sexo e BD

 


Não há nada mais belo e desejável em toda a Criação do que as mulheres. Ponto de vista de um homem, claro está. Parece que parece mal, mas é para o lado que este leitor dorme melhor, pois não as objectifica – calão de meia-tigela, muito útil para exercer censura ou promover extravagâncias mais ou menos inconfessáveis. Curiosamente, é neste activismo castrador, não por acaso, que vamos encontrar a maior complacência para com a situação das mulheres no Islão, da obrigatoriedade do uso do véu à polémica estrambótica em torno do “burquini”. Não há muito, num sítio belga web, que se dizia anarquista (!), a proibição do niqab e da burca era vituperada como um atentado à liberdade da mulher muçulmana. A estupidez à solta... Que a condição da mulher no mundo, e também em Portugal está longe do admissível e desejável é um facto; e um homem digno desse nome só pode conceber a mulher em paridade, a começar no campo sexual; a decência reclama o feminismo. Quem parece estar-se nas tintas é a revista L'Immanquable, que periodicamente lança números especiais com esta temática. O n.º 23 – esqueçamos o título parolo, Creátures de Rêve – oferece trabalhos de Sankha Banerjee, Joël Alessandra e a dupla Marwan Kahil/Mitsuko Swan, dossiers Milo Manara e André Juillard e um terceiro sobre as mais belas raparigas da BD erótica. L'Immanquable – Hors-Série Sexe et BD #23, Boulogne, Março de 2021.

«Leitor de BD»


sexta-feira, 7 de maio de 2021

Popeye, um vencedor do último século


 

Os anos fizeram com que raras personagens centenárias, ou quase, tenham caído nos esquecimento; e talvez apenas uma possa ter um reconhecimento planetário. Vejamos: de finais do Século XIX a até à década de 1920, os dedos de uma mão chegam para contar as séries ainda hoje susceptíveis de interessar a um público mais vasto: Os Sobrinhos do Capitão, de Rudolph Dirks (1897), enquanto houver rapazes endiabrados; Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay (1905) e Krazy Kat, de George Herriman (1909), continuam a alcançar leitores fervorosos, embora com critérios mais apertados. Os anos dez são um deserto, deste ponto de vista; nem mesmo o Panfúcio de Bringing Up Father, de George McManus (1913), teria pernas para andar só por si, a não ser destinado a nichos de coleccionadores. Depois há um gato e um rato, Félix (1919) e Mickey (1928), mas ambos nasceram para as telas, não são criações originais dos quadradinhos; e Tarzan, desenhado em 1929 por Hal Foster, procede, por sua vez, dos romances de aventuras. O que restará então? Dois bonecos desse mesmo ano, que os historiadores consideram como o início da “idade de ouro” da 9.ª Arte: rm escala apesar de tudo mais modesta, de proveniência belga, Tintin, de Hergé; e Popeye, o campeão de facto do século que se completará esta década.

Popeye, que na sua divertida crueza dir-se-ia precursor de um tom underground, é todo ele uma deformidade, do corpo à fala, excepto no carácter. Alma pura e destemida, sempre de cachimbo, os espinafres dão-lhe uma energia que aumentam a já notável força. A primeira aparição ocorre nas tiras de Thimble Theatre, que se publicava havia dez anos, tendo como protagonistas a família de Olive Oyl (Olívia Palito). Em breve, Popeye torna-se a estrela, e com ele Wimpy. um pequeno escroque obcecado por hambúrgueres, Swee' Pea (Ervilha de Cheiro), filho adoptivo, o mais inteligente do elenco, e Bluto, inimigo e rival, disputando as atenções da bela Olívia; acrescente-se ainda Poopdeck Pappy, pouco exemplar nos seus 96 anos; Sea Hag, a Bruxa do Mar, ainda mais pavorosa que a da Branca de Neve, e Eugénio o Jeep, estranho animal vindo dos confins da África Negra.

Em Popeye e o Jipe (1936), Olívia Palito recebe dum tio um caixote com o estranho bicho, muito dócil, com o dispendioso hábito de nutrir-se de orquídeas. A quadridimensionalidade (!) do cérebro permite-lhe actuar sobre o espaço e o tempo: desmaterializa-se e prevê o futuro... A têmpera de Popeye e os atributos de Eugénio (como se captura algo que se volatiliza?), fazem gorar os planos de um ambicioso para comprar e raptar o animal; e como adivinhava o futuro, um trafulha como Wimpy e uma flausina como Olívia vêem-se milionários, apostando em corridas de cavalos e combates de boxe. Quando chega a vez do embate entre o marinheiro e o colosso James J. Jab, o jeep prevê, supostamente, que Popeye o perderá. Ao ver a namorada e o amigo apostarem contra si, o moral do marinheiro desaba. Livro que nos acompanha desde 1978, relido agora, mantém a graça e o viço. Popeye tem carisma, por isso continua por aí, de saúde.


Popeye e o Jipe

texto e desenhos: E. C. Segar

edição: Editorial Presença, Lisboa, 1973 

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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Don Rosa

 


Se quando falamos nas sempre entusiasmantes aventuras do Tio Patinhas por montes e vales, apesar de ser o pato mais rico do mundo, lembramos o seu criador, Carl Barks (1901-2000) e o gosto das narrativas empolgantes, nenhum outro autor como Don Rosa justifica mais o epíteto de seu herdeiro. A Panini Brasil inicia a edição da «Biblioteca Don Rosa»: Tio Patinhas e Pato DonaldO Filho do Sol, São Paulo, 2021.

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domingo, 2 de maio de 2021

desenhar, sempre

 



Em 7 de Janeiro de 2015, Coco saíra da redacção do Charlie Hebdo, depois de estar à conversa com Cabu, Charb e o cronista Bernard Maris, quando é apanhada pelos dois terroristas que vão perpetrar o massacre, obrigando-a a conduzi-los às instalações do semanário satírico. Será ela a autora da capa histórica “Ils ont les armes, on les emmerde, on a le champagne!”. Sobrevivente, pois, traumatizada, é através do desenho que fará a catarse. Coco, Dessiner Encore, Les Arênes, 2021.

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