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quinta-feira, 25 de março de 2021

a vida como "infindável desenrascanço"




Literatura popular, de acção e sem grande profundidade, cobrindo uma multiplicidade de géneros, a ficção pulp deixou esquecidas pelas hemerotecas uma longa galeria de personagens, algumas das quais sobreviveram graças ao cinema e à banda desenhada: Buck Rogers, Conan o Bárbaro, Tarzan ou Zorro imprimiram-se primeiro nessas páginas de fraco papel e preço barato nos quiosques.

Em Pulp, a ideia de Ed Brubaker (Bethesda, Maryland, 1966) é esplêndida: no ano de 1939, em Nova Iorque, um homem de idade avançada ganha a vida a escrever pulp stories para uma revista popular, inspirando-se na própria juventude como fora-da-lei. Mas Pulp, está longe de ser uma pulp fiction.

No último quartel do século XIX, no pequeno rancho do jovem Max Winter, este, o irmão e um amigo são apanhados no meio de uma guerra entre grandes proprietários fundiários. Quando se recompõem, após a morte de um deles, e vendo-se sem nada, enveredam pelo banditismo, assaltando primeiro o transporte de dinheiro destinado aos grandes rancheiros. Tomaram-lhe o gosto, até assentarem no México para uma vida tranquila que não durou para sempre.

Voltamos a 1939, no escritório da Six Gun Western, revista que acolhe as histórias de Max. O publisher elogia o trabalho mas corta-lhe as asas: o escritor queria mostrar os últimos anos dessa dupla turbulenta, as suas vidas “como uma tapeçaria”. Péssima ideia para quem zela pelo interesse dos leitores que querem aventuras com heróis triunfantes e vilões castigados. Metafísica não paga contas...

Max vivia os últimos anos não sem dificuldades, mas encontrara em Rosa, a mulher das limpezas do prédio, o conforto de um coração puro, devolvendo-lhe algum gosto pela vida. Mesmo depois de roubado no metro, por ser humanista e quixote, o assalto que fora perpetrado pela revista, roubando-lhe a personagem graças a umas letras minúsculas do contrato, provoca um choque que lhe será familiar, em jovem também o haviam espoliado. Max, coração forte mas doente, decide remediar as coisas da maneira que bem conhece, embora a idade não seja a mesma. Eis senão quando é desviado do intento por Jeremiah Goldman, um ex-Pinkerton que andara no seu encalço pelo Oeste. Manhattan não é a pradaria, e os bandidos agora usam uniformes nazis da Bund, temível organização criada sob os auspícios de Rudolph Hess. Se esmurrar nazis é bom, mas não para velhos, roubá-los ou expor os financiadores será melhor. Goldman, um judeu, pensou em tudo.

O desenho de Phillips cumpre; as pranchas são conservadoras, sobressaindo o trabalho da cor, a cargo do filho, Jacob Phillips, em especial nas cenas que relatam a história de Max, chapadas ao longo das vinhetas, sem cuidar dos contornos dos desenhos. Brubaker dá-nos uma história com arranques sucessivos, como num ritornelo musical, em que a repetição afinal não o é.


Pulp

texto: Ed Brubaker

desenhos: Sean Phillips

cores: Jacob Phillips

edição: G-Floy, Varsóvia, 2020

«Leitor de BD»


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

"Pulp"


 

Pelo texto da editora, pela capa (por vezes também se deve julgar um livro pela capa…), percebe-se que há aqui coisa séria:O que fazer quando sabemos que devíamos ter morrido novos, mas isso não acontece? Max Winter tinha outro nome e outra vida, há muito tempo. Agora, na Nova Iorque nos anos trinta, Max sobrevive a escrever para revistas as histórias superficialmente disfarçadas sobre o homem que em tempos foi, histórias da fronteira esquecida e de um fora-da-lei do faroeste que fazia a justiça a tiro. Mas, quando a sua vida começa a desmoronar, e ele vê o mundo à beira de uma guerra, com os Nazis a marcharem pela Europa e pelas ruas de Nova Iorque, Max dá consigo a pensar novamente como um fora-da-lei... E, uma vez tendo seguido por esse caminho, pode não haver volta atrás.” Romance gráfico com argumento de Ed Burbaker e desenhos de Sean Phillips, Pulp (literatura barata ou de cordel), algo que certamente este livro não será. Anotado. Edição G-Floy, 2020.

«Leitor de BD»