sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Lucky Luke


Agora, com tanta reescrita e reinvenção do cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra, um álbum canónico, desenhado por Achdé com argumento de Jul. A acção decorre na Luisiana, e damos por Lucky Luke como proprietário de uma enorme plantação de algodão. Proprietários que pensam tratar-se de um dos seus, cajuns (os franceses da região, expulsos pelos ingleses do Canadá, no século XVIII e ali fixados) que irão dar-lhe água pela barba, e os Dalton, claro. Ao lado de Luke, está Bass Reeves, o primeiro marshall negro dos Estados Unidos... Chama-se a isto aproveitar a oportunidade dos tempos que correm. Se a história for boa, mal não haverá. Un Cow-boy dan le Cotton, Dargaud, Paris, 2020.

«Leitor de BD», jornal i

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Bordalo, confinado



 

Se Stuart Carvalhais (1887-1961) é o pioneiro dos quadradinhos, Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) é o precursor. Um exemplo é este relato em imagens sequenciais, No Lazareto de Lisboa (1881), agora reeditado, Mas já na década anterior publicara uma sátira a propósito de viagem de D. Pedro II,: Apontamentos de Rafael Bordalo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Raslib pela Europa (1872). Artista de génio, irmão de um outro (Columbano, 1857-1929), como se luz rasante e sombra carregada, tão diferentes foram. A Rafael se deve a criação do retrato arquetípico e pouco lisonjeiro do português, em 1875: o Zé Povinho, de mãos nos bolsos ou manguito disparado e riso alvar.

Nesse ano, Bordalo parte para o Brasil a tentar a sorte, regressando em 1879, sem dinheiro mas com sacos cheios de experiência e histórias para contar; mas a principal viveu-a em Lisboa. À chegada, com uma pandemia de febre amarela assolar a antiga colónia, o artista é recambiado para o Lazareto, situado em Porto Brandão, cujo edifício se encontra hoje em ruínas: “ao pousar o pé no torrão natal, no momento de estender os braços à imagem querida da pátria, em vez de ser apertado pelos braços amigos, fui apertado pelos guardas de saúde e metido no lazareto”, recordou no prólogo deste curto álbum.

A narrativa tem três partes: “Recordações”, “A partida” e “No Lazareto”. A aventura brasileira gorou-se, mas o registo é empático, por vezes entusiasmado, outras cáustico. Seria interessante saber se Bordalo trocou algum bate-papo com o grande Machado de Assis, cuja mulher era irmã de Faustino Xavier de Novais, poeta satírico e grande amigo de Camilo, também ele imigrado no Rio... A Rua do Ouvidor esplende no torvelinho de comércio e gente, a capoeira mexe e o assalto já então vicejava. O Primo Basílio passeia-se por lá amparado por duas coquettes. Já a Lisboa vista do confinamento surge mazorra como o país, “estirado à sombra da fresca laranjeira”, e Rafael a olhá-lo de mãos nos bolsos, à maneira da imortal criatura que engendrou.

Retratos do povo, da burguesia, das elites e da classe dirigente, cá e lá. Umas identificadas (D. Pedro II, imperador do Brasil, o folhetinista Júlio César Machado), outras por identificar como o inevitável António Maria Fontes Pereira de Melo, cujo nome de baptismo lhe serviu para um dos mais assinaláveis jornais humorísticos da história da imprensa portuguesa, O AntónioMaria (1879-1898).

A edição actual nem sempre apresenta a melhor reprodução de imagem; mas sendo uma raridade bibliográfica, e uma obra gráfica de um dos maiores espíritos críticos do Portugal oitocentista, é sempre melhor tê-la do que não. Para os curiosos, está também acessível no sítio Hemeroteca. Como diria alguém a quem o humor não era estranho, confinamentos há muitos.


NoLazareto de Lisboa

Texto e desenhos: Rafael Bordalo Pinheiro

co-edição Museu Bordalo Pinheiro e Pim! Edições, Lisboa, 2020.

«Leitor de BD», jornal i

terça-feira, 27 de outubro de 2020

que dois...

 



Um casal na casa dos 30, antes amantíssimos hoje separados e detestando-se, continuam a gerir o restaurante que haviam aberto quando era felizes. Fumetto italiano, os autores são conhecidos por cá. Tito Faraci, argumentista, entre muitos outros, de Mickey e Dylan Gog; Silvia Ziche nos desenhos, também autora consagrada dos fumetti Disney, e de Lucrezia, uma deliciosa balzaquiana ansiosa. Quei Due, Sergio Bonelli Editore, Milão, 2020.



«Leitor de BD», jornal i

domingo, 25 de outubro de 2020

passageiras de noite

 


Na Paris ocupada pelos nazis, Arlette sente-se livre, pois acaba de sair da prisão; Anna, ilusionista acha-se mais protegida no cabaré em que trabalha. As circunstância adversas na agora obscura cidade-luz irão aproximá-las. Deux Passantes dans la Nuit, texto de Patrice Leconte e Jerôme Tonerre, desenhos de Al Coutelis, Grand Angle, 2020.

«Leitor de BD», jornal i

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

sombra e silêncio



Nascido durante a ocupação alemã, desta vez na Bélgica, pai de origem alemã e mãe francófona, Didier Comès (aliás Dieter Hermann Comes,1942-2003), considerava-se um bastardo de duas culturas. Autor de um dos grandes livros da BD europeia, Silêncio, narrativa publicada em 1979 na mítica revista (À Suivre) e entre nós no semanário Tintin, entre outras obra marcantes, Comês é objecto de uma monografia de Thierry Bellefroid, Comès, d'Ombre et Silence. Edição Casterman, Tournai, 2020.

«Leitor de BD», jornal i

domingo, 18 de outubro de 2020

«As Conspirações do Grão-Vizir Iznogoud»


 

Quanto a nós, a grande personagem de René Goscinny é Iznogoud, o pérfido grão-vizir (primeiro-ministro) do bondoso califa de Bagdade, Haroun-el-Poussah, ambos passados ao papel pelo desenhador Jean Tabary (1930-2011). O talento da dupla confluiu para a criação de uma figura inesquecível: um olhar vivo e mau numa cabeça que parece um binómio com soluços, um símbolo depravado do yin e yang taoísta assente num corpo de metro e meio e um nome que diz tudo. Sempre acolitado por um sicário chamado Dilat Larat, Iznogoud tem a obsessão de querer ser califa no lugar do califa, e para tal não olha a meios.

A série surge em 1962 num semanário sem grande história, e a apresentação trazia logo a marca humorística de Goscinny na sua designação: As Aventuras do Califa Haroun-el-Poussah... um nababo de rosto sonolento e aparvalhado, sempre solícito para com as ideias do “seu bom Iznogoud”. O recurso desabusado ao trocadilho, os impasses criados pelo cómico de situação, a inigualável vileza, levaram o grão-vizir ao pódio das mais emblemáticas narrativas goscinnyanas, com Lucky Luke. Humpa-pá, Astérix...

Por razões que desconhecemos, o primeiro álbum, Le Grand Vizir Iznogoud (1966), não teve edição portuguesa, ao contrário do seguinte As Conspirações do Grão-Vizir Iznogoud (originalmente publicado em 1967), composto por seis narrativas breves. Em “Há rã no Califado”, surge um batráquio que era um príncipe amaldiçoado a precisar de ósculo redentor; porém, quem o beijava transformava-se por sua vez em rã. É claro que Iznogoud entrará nos aposentos do califa com uma ideia bem precisa em mente... Em ”Os olhos dilatados”, Iznogoud assiste num teatro de Bagdade aos prodígios dum hipnotizador que aliciará para sugestionar o bom Haroun-el-Poussah de que afinal é um asno; infelizmente para o grão-vizir, umas simples palmas bastavam para que tudo voltasse ao normal, e o califa para as almofadas. “O filtro ocidental” mostra um alquimista europeu criador duma poção que tornava mais leve que o ar quem a bebesse; cobaia de si próprio foi parar a Bagdade; Iznogoud tudo fará para que o soberano ingira o elixir e que bom vento o leve. “A máquina de viajar no tempo”, tem a curiosa participação do próprio desenhador, Tabary, que parece se atrasava nos prazos de entrega das pranchas... Segue-se “O piquenique” – que lugar melhor para fazer um senão no deserto? Iznogoud convence o califa disso mesmo, pretendendo abandoná-lo à sede. Escusado será dizer que tudo se conjuga para a ocorrência de água de todas as maneiras. Finalmente, “Caçada cruzada”, uma taça encantada faz com que quem beba por ela troque de corpo com quem lha passou. Neste breve obra-prima de humor, Iznogoud vê finalmente coroada a persistência, tornando-se califa no lugar do califa. Mas tal golpe palaciano terá sido bem sucedido?


As Conspirações do Grão-Vizir Iznogoud

texto: René Goscinny



desenhos: Jean Tabary

edição: Meribérica, Lisboa, s.d.

«Leitor de BD», jornal i

sábado, 17 de outubro de 2020

a última rosa do verão


 

Léo tem a ambição de ser escritor. A proposta de um primo para tomar conta da casa de Verão permite-lhe largar Paris e o trabalho numa lava-automático de automóveis e dedicar-se ao sonho que acalenta. A atmosfera é de 'beautiful people', mas desaparecimentos inesperados vêm perturbar-lhe os planos, principalmente quando entra em cena o inspector Beloeil e uma vizinha, demasiado bela, demasiado adolescente: Rosa. La Dernière Rose de l'Été, de Lucas Harari. Edição Sarbacane, Paris, 2020.

«Leitor de BD», jornal i

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Carl Barks


A Panini Brasil está a editar clássicos Disney de Carl Barks. O quinto volume, 
Tio Patinhas – As Minas do Rei Salomão, conta-nos uma disputa entre Patinhas e o sobrinho Donald sobre quem encontrará primeiro o tesouro do grande monarca. Estas e outras histórias do criador do Prof. Pardal, dum criador de imaginários.

domingo, 11 de outubro de 2020

Mies



Mies Van der Rohe (1886-1969). A vida de um dos grandes arquitectos do século XX, as aspirações artísticas, a vivência amorosa, a perseguição do III Reich e a ida para a América, recordada pelo próprio em diálogo com o neto. Texto e desenhos de Agustín Ferrer Casas, livro premiado no país vizinho, numa edição Grafito, Valência, 2020.

«Leitor de BD», jornal i

sábado, 10 de outubro de 2020

um homem de palavra


 Tal como o ser humano, também as civilizações temem o fim e elaboram sobre o prazo de validade. Do Antigo Testamento às expedições a Marte, com calamidades naturais, guerras, fomes, pestes, invasões, com tudo isso a humanidade se defronta desde que deu conta de si própria. A arte é fértil, tornando-se´o imaginário pós-apocalíptico uma categoria como qualquer outra, nas suas variantes. E a BD não fica atrás, destacando-se no campo franco-belga, a séries de Simon du Fleuve, criada em 1973 por Claude Auclair (1943-1990) e Jeremiah, de Hermann, em curso de publicação, ambas tendo por base um cenário pós-catástrofe, consequência de guerras nucleares ou conflitos étnicos generalizados.

Le Convoyeur é uma nova série do género, com argumento de Tristan Roulot (Rennes, 1975) e Dimitri Armand (Orleães, 1985), tendo a sua estreia, em Abril deste ano, coincidido em cheio com o início do pânico sentido em boa parte da Europa provocado pela Covid-19, uma curiosa coincidência.

Um vírus desconhecido emerge do centro da terra, atacando os metais, corroendo lentamente todos os utensílios, todas as estruturas edificadas assentes no betão. Recurso agora escasso, os homens têm de readaptar-se, regressando ao couro e à madeira. De pé ficaram apenas as estruturas que vinham do Antigo Regime, os castelos, as fortificações. Mas este vírus interfere também no metabolismo, originando terríveis anomalias e mutações, atingindo elevada percentagem da população. Neste primeiro tomo, intitulado Nymphe, percebemos a pulverização populacional num cenário medieval de paliçadas e castelos coexistindo com vestígios de ruínas da modernidade: carcaças de automóveis, edifícios meio desabados. O poder exerce-se em bandos, havendo ainda uma poderosa organização sacerdotal, cujos contornos não surgem ainda bem definidos neste episódio inicial. Sabe-se apenas que percorrem as comunidades, fortemente armados , à caça de crianças sãs e dos progenitores, capturando-os para futura reprodução de indivíduos saudáveis – a única possibilidade de salvar a humanidade, a procriar seres repelentes (a bela Ninfa, metade mulher, metade aranha é um deles) ou tornada estéril. Na floresta, elemento sempre misterioso e inacessível, vivem predadores cegos, espécie de dinoprimatas da mata, chacinando tudo o que se aproxima da fímbria do seu território

E o herói, no meio disto tudo? O Convoyeur (o distribuidor) é um solitário façanhudo, que aceita todas as missões que lhe são confiadas, aparentemente sem grandes dilemas morais. “A minha palavra é a minha lei”, diz para consigo. Em troca, o contratante compromete-se a engolir um peculiar ovo que aquele lhe oferece... Porquê, não sabemos; não é difícil ver naquele alimento um símbolo de renascimento. Mas respostas para estas e outras interrogações, só nos álbuns seguintes.


Le Convoyeur – tomo 1 – Nymphe

argumento: Tristan Roulot

desenhos: Dimitri Armand

edição: Le Lombard, Bruxelas, 2020

«Leitor de BD», jornal i

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Mulher-Borboleta

 


"Greg" é um mal sucedido autor de autoficção. O editor propõe-lhe a criação de um super-herói diferente, que as minorias possam apreciar. É assim que surge a mulher-borboleta: uma empregada de limpeza negra num laboratório de física, para fugir ao assédio de um cientista esconde-se num acelerador de partículas no preciso momento em que uma borboleta lhe pousa no ombro. Nasce assim a Butterfly-Woman, inimiga dos fascistas, dos racistas, dos machistas, numa homenagem paródica ao universo dos super-heróis. La Femme Papillon, texto de Michel Coulon, desenhos de  Grégory Mardon, Futuropolis, 2020.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

raparigas e marinheiros


Vamos sempre dar a um porto e aos seus bordéis. Depois de O Porto Proibido (Il Porto Proibito, 2015) a sequela parece que foi publicada primeiro em França, pela Glénat: Les Filles des Marin Perdu, cada uma cada noite, num alcouce de Plymouth, contando a sua história. Pelo casal Teresa Radice e Stefano Turconi, também autores Disney italianos (Pippo, Topolino, Zio Paperone – ou seja, Pateta, Mickey Tio Patinhas), num movimento do infanto-juvenil para o adulto, contrário ao de Cosey, autor do poético Johantan, que não se coibiu de desenhar, por exemplo, a Minnie, como já aqui falámos.

«Leitor de BD», jornal i


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

«Stumptown»

 


Uma detective chamada Dex Parios, dona da Stumptown Investigations é também uma dependente do jogo e, lésbica, sorte ao amor ver-se-á. Nomeada para um Prémio Eisner, foi adaptada a série televisiva. O título do primeiro tomo é magnífico: "O caso da rapariga que levou o champô mas deixou o carro". de Greg Rucka e Matthew Southworth, edição G-Floy, 2020.

«Leitor de BD», jonal i

domingo, 4 de outubro de 2020

«O Juramento dos Vikings»

 


Há uma tira de Hagar o Horrível, em que o víquingue criado por Dick Browne, chegado a França para a pilhagem, vê um burguês gritando aos quatro ventos “Cachez vos belles!”, receoso do estupro a que as mulheres estariam sujeitas; quando Hagar vislumbra um estafermo à janela, é o próprio que grita desalmadamente: “Cachez vos belles!” Ah, os víquingues!… Historicamente, Levaram tudo à frente, da Europa Oriental ao Norte de África. Pagãos relapsos por muito tempo, tanto se lhes dava arriar em cristãos como em muçulmanos. Ao rei de França impuseram um extenso domínio, a terra dos homens do Norte, os normandos – essa Normandia que viria a estar na origem da Guerra dos 100 anos... Para deles se proteger, Mumadona Dias, Condessa de Portucale (c. 943-950), mandou erigir uma larga torre que deu origem ao castelo de Guimarães; Mediterrâneo adentro, atiraram os árabes ao mar, criando o reino normando da Sicília...

Hoje voltamos a Peyo (Pierre Culliford, 1928-1992), depois de Kim Kebranoz, e também ao mar, depois de Raven, na semana passada. E a própria pirataria não está de todo ausente, uma vez o autor, belga de pai inglês, é descendente de um flibusteiro do século XVII, Robert Culliford, parceiro e depois inimigo do célebre Capitão Kidd (1645-1701), corsário escocês. Les Aventures de Johan aparecem no jornal belga La Dernière Heure, em 1946. Trata-se de um escudeiro com traços de Príncipe Valente disneyficado, habitando numa Idade Média de transição, por volta do século X, e que ao terceiro álbum, já na revista Spirou, ganhará em Pirlouit – um anão truculento que tem uma cabra por montada – um digno Sancho Pança, ou um Haddock, um Fantásio, um Obélix... Em Portugal tomaram o nome de João e Pirolito.

O Juramento dos Vikings, álbum original de 1958, sem a panóplia de feiticeiros, ogres, gigantes, pequenos seres azuis (os Schtroumpfs apareceram aqui) que caracterizam a série, é um episódio bastante linear: de regresso de uma missão que lhes fora confiada pelo rei, e após uma trapalhada de Pirolito, caído ao mar vestido, os dois amigos são acolhidos por uma família de pescadores. Um dos quatro filhos, pela idade e porte, destoa do resto da família. Não tardaremos a perceber de que se trata de um jovem rei destronado pelo regente, que em segredo fora escondido naquela recanto isolado. Há guerra civil no reino da Snoelândia, e sem noção do que está em causa, julgando ser o rapaz o filho mais velho do pescador, João e Pirolito vêem-se envolvidos numa disputa entre dois grupos – os que querem matar o jovem e os que querem resgatá-lo para que se sente o trono.

A partir daqui, há um corrupio por entre mares e ilhas, enseadas e castelos, espadeirada de meia-noite, em vinhetas que compõem pranchas com um óptimo dinamismo visual.

João e Pirolito – O Juramento dos Vikings

texto e desenhos: Peyo

edição: União Gráfica, Lisboa, 1967

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