segunda-feira, 15 de junho de 2020

o primeiro Lucky Luke

No fim da II Guerra Mundial, o jovem Maurice de Bevère (1923-2001) trabalhava nuns estúdios de animação em Bruxelas, na companhia doutros futuros talentos da BD: Franquin (Spirou e Gaston), Peyo (Schtroumpfs) e Eddy Paape (Luc Orient). A concorrência dos grandes estúdios norte americanos era avassaladora, e a pequena empresa fechou. Os jovens viraram-se para a banda desenhada, actividade supostamente contígua; porém, como viriam a descobrir, a linguagem é outra e de outra natureza é a arte praticada.
Morris – nome artístico de Maurice, homofonia adoptada para sempre – estava longe de imaginar que a personagem que criara, para o Almanaque Spirou, no fim de 1946, figurando numa breve narrativa intitulada Arizona 1880, viria a ser um dos maiores ícones dos quadradinhos mundiais, no que respeita a difusão e popularidade. Chamava-se Lucky Luke, personagem de que nunca mais se desligou, sendo um dos raríssimos casos em autores de BD a trabalhar exclusivamente a mesma figura. Até Hal Foster, que não imaginamos a fazer outra coisa que não o Príncipe Valente, desenhou previamente um Tarzan…
Em 1948, Morris partiu para os Estados Unidos, na companhia de Jijé e Franquin, e por lá ficou seis anos a trabalhar. Em Nova Iorque, três anos depois, irá dar-se um encontro decisivo com René Goscinny, decisivo para ambos, pois será em consequência dele que o futuro criador de Astérix se lançará como argumentista de BD.
O Lucky Luke inicial tem ainda características de boneco para animação: traços muito arredondados, quatro dedos em cada mão, mas também já algumas das características que o distinguirão: tiro certeiro, um punch de aço, espírito abnegado e corajoso.
Este primeiro álbum, publicado em 1949 na sua edição inicial, traz duas histórias: A Mina de Ouro de Dick Digger (1947) e O Sósia de Lucky Luke  (1951). Na primeira, o mapa de uma mina dum velho pesquisador é roubado por dois bandidos, com o jovem cavalheiresco prometendo à mulher de Dick Digger a sua recuperação; na segunda, Mad Jim é um desperado que aterroriza o Arizona; acontece que é também um sósia de Luke, vestindo a mesma indumentária: este é capturado e Mad Jim faz-se passar pelo nosso herói. Jolly Jumpper, porém, que à época ainda não aprendera a jogar xadrez, não se deixou enganar. A narrativa termina com o original a abater a cópia. No tempo de Morris a solo, Lucky Luke matava; Goscinny acabou com isso.
 A partir de Carris na Pradaria (1955), o argumentista vem acrescentar ao carisma inicial uma refinamento no humor e um carácter menos naïf, além do cómico de situação, reinventando uns primos Dalton (os irmãos originais haviam também sido mortos pelo cowboy solitário) e o cão mais estúpido do Oeste, Rantanplan. Depois foram vieram livros como O Juiz O 20º de CavalariaA CaravanaCalamity Jane, Canyon Apache, ou Os Dalton no Psicanalista, entre outras obras, primas atrás de primas.


Lucky Luke – La Mine d'Or de Dick Digger
texto e desenhos: Morris
edição: Dupuis, Marcinelle, 1969.
edição portuguesa: Asa, Porto, 2005.


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