No
fim da II Guerra Mundial, o jovem Maurice de Bevère (1923-2001)
trabalhava nuns estúdios de animação em Bruxelas, na companhia
doutros futuros talentos da BD: Franquin (Spirou e Gaston), Peyo
(Schtroumpfs) e Eddy Paape (Luc Orient). A concorrência dos grandes
estúdios norte americanos era avassaladora, e a pequena empresa
fechou. Os jovens viraram-se para a banda desenhada, actividade
supostamente contígua; porém, como viriam a descobrir, a linguagem
é outra e de outra natureza é a arte praticada.
Morris
– nome artístico de Maurice, homofonia adoptada para sempre –
estava longe de imaginar que a personagem que criara, para
o Almanaque Spirou, no fim de 1946, figurando numa breve
narrativa intitulada Arizona 1880, viria a ser um dos
maiores ícones dos quadradinhos mundiais, no que respeita a difusão
e popularidade. Chamava-se Lucky Luke, personagem de que nunca mais
se desligou, sendo um dos raríssimos casos em autores de BD a
trabalhar exclusivamente a mesma figura. Até Hal Foster, que não
imaginamos a fazer outra coisa que não o Príncipe Valente, desenhou
previamente um Tarzan…
Em
1948, Morris partiu para os Estados Unidos, na companhia de Jijé e
Franquin, e por lá ficou seis anos a trabalhar. Em Nova Iorque, três
anos depois, irá dar-se um encontro decisivo com René Goscinny,
decisivo para ambos, pois será em consequência dele que o futuro
criador de Astérix se lançará como argumentista de BD.
O
Lucky Luke inicial tem ainda características de boneco para
animação: traços muito arredondados, quatro dedos em cada mão,
mas também já algumas das características que o distinguirão:
tiro certeiro, um punch de aço, espírito abnegado
e corajoso.
Este
primeiro álbum, publicado em 1949 na sua edição inicial, traz duas histórias: A
Mina de Ouro de Dick Digger (1947) e O Sósia de
Lucky Luke (1951). Na primeira, o mapa de uma mina dum
velho pesquisador é roubado por dois bandidos, com o jovem
cavalheiresco prometendo à mulher de Dick Digger a sua recuperação;
na segunda, Mad Jim é um desperado que aterroriza o
Arizona; acontece que é também um sósia de Luke, vestindo a mesma
indumentária: este é capturado e Mad Jim faz-se passar pelo nosso
herói. Jolly Jumpper, porém, que à época ainda não aprendera a
jogar xadrez, não se deixou enganar. A narrativa termina com o
original a abater a cópia. No tempo de Morris a solo, Lucky Luke
matava; Goscinny acabou com isso.
A
partir de Carris
na Pradaria (1955),
o argumentista vem acrescentar ao carisma inicial uma refinamento no
humor e um carácter menos naïf,
além do cómico de situação, reinventando uns primos Dalton (os
irmãos originais haviam também sido mortos pelo cowboy solitário)
e o cão mais estúpido do Oeste, Rantanplan. Depois foram vieram
livros como O
Juiz O 20º de Cavalaria, A
Caravana, Calamity
Jane, Canyon
Apache, ou Os
Dalton no Psicanalista,
entre outras obras, primas atrás de primas.
Lucky
Luke – La Mine d'Or de Dick Digger
texto
e desenhos: Morris
edição:
Dupuis, Marcinelle, 1969.
edição
portuguesa: Asa, Porto, 2005.
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