Quim e Filipe (Quick et Flupke, no original) aparecem
no jornal juvenil Le Petit Vingtième,
em 1930, fazendo companhia a Tintin. Enquanto o repórter deambula pelo Congo,
Hergé oferece semanalmente aos leitores histórias humorísticas de duas páginas,
em que os protagonistas são dois garotos de Bruxelas. O seu grande desígnio é
comum a todos os miúdos de todas as épocas: passar o dia a brincar, de
preferência na rua, se possível com muitos amigos. Meninas, não há; parece que
a rua não era lugar para elas nesse tempo, até porque jogar à pedrada, um dos entreténs da rapaziada de várias eras, não
parecia ser muito do seu agrado. A comicidade é suave e inofensiva – quem nunca
tocou a todas as campainhas de um prédio e depois deu à sola? Nos melhores
momentos, reconhecemos o humor de Hergé, dos estatelanços aos quiproquós.
Série secundária em face da magnitude das aventuras de
Tintin, lê-se com agrado pelo valor testemunhal: dos artefactos – quando a
tecnologia de ponta se materializava num esplendoroso carrinho de rolamentos, fabrico
próprio –, à pedagogia aplicada, a saber, uns açoites bem puxados quando as
tropelias passavam das marcas, para não falar da falta de sentido de humor do
polícia de giro (Quim e Filipe têm um problema com a autoridade…)
Os episódios cessam em 1941, ano que não é para
graças. Numa das longas entrevistas que concedeu a Numa Sadoul, Hergé revelou
que estava então assoberbado de trabalho com Tintin e Milou e ainda uma outra
série de que também falaremos: Jo, Zette
et Jocko.
Aventuras
e Desventuras de Quim e Filipe- vol. I
Texto e desenhos: Hergé
Edição: Difusão Verbo, Lisboa, 2000.
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