Com Winsor McCay
(1867-1934), os quadradinhos atingem a maturidade gráfica. Little Nemo in Slumberland, a sua mais célebre criação estreou-se a
15 de Outubro de 1905, no New York Herald.
Cada prancha é um prodígio de imaginação e cor, e nunca mais se foi tão longe
na disposição de uma narrativa em imagens. Jean Giraud / Moebius foi um dos
muitos que aqui vieram beber.
A página é encimada por uma vinheta a toda a largura,
espécie de friso ao gosto Arte Nova, que dá o mote: Morfeus, rei do País dos
Sonhos, envia emissários a Nemo; e lá vai ele, até acordar, por vezes no chão.
Há ocasiões em que, em vez de quadradinhos estanques, o mesmo desenho se
prolonga, dando a ilusão de vária vinhetas – por exemplo, entre os vãos dos
pilares de uma ponte. Esta linguagem, hoje comum, era nova no dealbar do século
XX. Aliás, como notam os críticos, o caminho fazia-se à medida que o caminhante
vencia cada etapa. No álbum que temos em mãos, esse work in progress é particularmente visível: nas pranchas iniciais,
McCay, embora recorresse à filactera (o ‘balão’), introduzia texto sob a
vinheta, uma redundância que só atrapalhava a fruição da beleza dos desenhos, a
riqueza da composição e a inventiva das histórias que pretendia contar. Ao fim
de 20 pranchas, essa excrescência será eliminada, dando a margem indispensável
ao leitor para seguir a narrativa sem outra condicionante que não fosse a
materialidade sobre a qual se aplica uma história em quadradinhos: uma folha de
papel.
O Pequeno Nemo no País dos Sonhos – vol. I:1905-1907
texto e desenhos: Winsor McCay
edição: Livros Horizonte, Lisboa, 1990
Sem comentários:
Enviar um comentário