O livro de hoje fala-nos de um herói conhecido pela sua amizade e solidariedade para com os índios. É inclusivamente chefe honorário dos navajos, que chamaram “Aguia da Noite”. Trata-se de Tex,, membro dos Texas Rangers, série italiana criada em 1948 pelo argumentista Gian Luigi Bonelli (1908-2001) com desenhos de Aurelio Galleppini (1917-1994). Dezenas de argumentistas e desenhadores passaram desde então por aqui, italianos na maioria, mas também outros para lá da bota, como Joe Kubert, Colin Wilson, Jesús Blasco, Victor de la Fuente ou Jordi Bernet.
Tex nem sempre teve entre nós a difusão que hoje conhece. Chegava em revistas brasileiras de pequeno formato, a preto e branco, sem o atractivo dos westerns franco-belgas, publicados a cores e em álbum. Para o jovem leitor de há 40 anos, pareciam-se com aquelas edições uma bocado manhosas da Agência Portuguesa de Revistas. As coisas começam a mudar a partir de 2006, graças à criação do “Tex Willer Blog”, mas passariam ainda três anos até que uma primeira edição portuguesa ocorresse: Tex Contra Mefisto (de Bonelli e Galleppini),
Capitan Jack, de Tito Faraci (Galarate, Varese, 1965) e Enrique Breccia (Buenos Aires, 1945), cujo apelido evoca o seu pai, Alberto (1919-1993), um dos criadores de Mort Cinder, um marco da BD mundial, é o último volume publicado pela Polvo na colecção “Tex – Novela Gráfica”. O argumento de Faraci é linear: a acção passa-se entre 1872 e 1873, centrado na rebelião dos índíos Modocs, pequena tribo localizada na fronteira entre a Califórnia e o Oregon, caçadores, guerreiros e também traficantes de escravos. Ludibriados pelas autoridades, são colocados numa reserva com uma tribo adversa e mais forte, até que o chefe Kintpuash, também conhecido por Capitão Jack, se subleva e acantona nas Lava Beds, inexpugnáveis formações geológicas tornadas entretanto monumento nacional. Este é o fundo histórico em que Tex intervém, com os tradicionais ingredientes de bravura ou traição, narrativa fluida, cuja maior originalidade será a de pôr em campo uma tribo que não costuma aparecer. O episódio foi contudo trágico, e está incluído na relação das Guerras Índias (1865-90). Tex é uma personagem plana, sem grandes estados de alma ou contradições; herói sem mácula, neste particular uma espécie de Lone Ranger (O Mascarilha) desvelado.
A arte de Enrique Breccia é plena de virtuosismo, com um dinamismo fulgurante nos vários planos que cada vinheta assume em função da narrativa. Os detalhes são ricos e um regalo para os olhos. Pormenores como folhas caindo sempre que a acção se desenrola perto do bosque que circunda uma quinta onde tudo começa, dão uma intensidade e um pathos que não se esquece. A expressividade dos traços fisionómicos é assinalável, embora por vezes nos pareça que Breccia carrega as tintas.
Tex – Capitan Jack
texto: Tito Faraci
desenhos: Enrique Breccia
edição: Polvo, Lisboa, 2018
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