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2016, primeiro na Spirou,
revista em que 70 anos antes o cowboy que dispara mais rápido que a
própria sombra se estreou, L'Homme qui Tua
Lucky Luke, de Matthieu Bonhomme (Paris,
1973), conhece a primeira edição portuguesa neste ano da desgraça
de 2020.
Para
um ano pesado um título duro: pois Lucky Luke deparou-se com alguém
capaz de o (a)bater?...
Podemos
abordar este álbum de duas formas interessantes: a primeira, apenas
como western, o que
será sempre difícil, mesmo não se tratando de um trabalho de
Morris (alvo, aliás de uma tocante homenagem no cemitério de Frog
Town), ou do sucessor Achdé. E então teremos um western
escorreito e com tudo, ou quase: cavaleiro
solitário, cidadezeca (Frog Town) perdida no Oeste, nascida em torno
do garimpo, forças da lei&ordem ineficazes e/ou ao serviço de
gente pouco recomendável, populações ora assustadas ora
enfurecidas, índios na retranca, duelos, enfim, todo o pathos
do género – só faltando a Cavalaria –,
incluindo citações e homenagens ao cinema, como nota em texto final
João Miguel Lameiras, um dos editores. Estamos, assim, diante de um
western puro, não
humorístico – o humor está presente de forma cirúrgica e eficaz
–, com um estilo semi-realista muito expressivo, mas em tons
macios. Lembra, com as devidas distâncias, os primeiros álbuns de
Buddy Longway, de Derib, sem a sujidade característica das pranchas
de Giraud ou Hermann; quanto às fisionomias mais grotescas, elas
trazem à memória o traço de Will Eisner.
Mas
este é um álbum de Lucky Luke, numa incursão até certo ponto
comparável à que Émile Bravo está a fazer com Spirou, e que temos
vindo a acompanhar. A primeira evidência que apetece salientar neste
trabalho de revisitação – tratava-se de um sonho antigo de
Matthieu Bonhomme – é que o livro resulta num preito principalmente
ao primeiro Lucky Luke, época pré-Goscinny, em que após as
histórias iniciais, ainda pueris e muito influenciadas pela
animação, Morris, entretanto delineia o perfil da personagem: um
“pistoleiro bom”, herói solitário, corajoso e leal, impiedoso
se for caso disso, traços que progressivamente se vão desvanecendo
com Goscinny, à medida que ganham protagonismo Jolly Jumper, os
Dalton e Rantanplan; com Bonhomme, o cavalo de Lucky Luke, volta a
ser uma montada, especial é certo, mas sem os atributos delirantes
que lhe foram outorgados pelo também criador de Astérix. A
circunstância de o já célebre Lucky Luke, acabado de chegar à
cidade, ser questionado pelas crianças que o admiram por Phil Deefer
ou os Dalton – criados por Morris, a partir de uns Dalton que
existiram mesmo e acabaram abatidos, como sucede de resto na primeira
encarnação na série, é um indício desse recuo de Bonhomme às
raízes do nosso cowboy.
Com poucas referências à série canónica – e uma vez que o autor
estava proibido de voltar a desenhar Lucky Luke com um cigarro na
boca –, Mathieu Bonhomme revela-nos a razão de o nosso herói ter
deixado de fumar. É, claramente, uma das edições do ano.
O
Homem que Matou Lucky Luke
texto
e desenhos: Matthieu Bonhomme
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