terça-feira, 28 de setembro de 2021

Spirou, filho de sua mãe



Nunca pouparemos as loas devidas ao trabalho que Émile Bravo tem vindo a fazer com Spirou desde 2008, em Le Journal d'un Ingénu, e agora os quatro tomos de L'Espoir Malgré Tout, tendo por cenário a Bélgica sob ocupação alemã. Em entrevista a propósito da pré-publicação em curso, o jornalista refere-se à “masculinidade destituída de toda a virilidade” do jovem groom, entrando no campo pantanoso em voga, até porque virilidade e machismo não são propriamente sinónimos. A preocupação de Bravo é a de densificar o carácter ético da personagem, tornando-a num modelo de humanidade para os leitores jovens. Aquela observação fora suscitada pela recusa do autor em pôr armas nas mãos do amigo de Fantásio, e a resposta é deveras interessante: “Spirou, pela sua educação, deveria estar impregnado de ideias-feitas sobre o que é suposto ser homem; mas como por natureza é possuidor de uma grande sensibilidade e uma alma muito feminina, essas ideias encontram oposição, fazendo com que se interrogue. O que faz dele um herói à-parte: ousar o humanismo em tempo de guerra.” Como discordar? Nenhum homem está completo sem essa sensibilidade feminina, que fará de cada um filho de sua mãe. Mas, claro, sem deixar de ser homem. Spirou #4343, Marcinelle, 7 de Julho de 2021.


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