Billy Batson / Capitão Marvel,
de Bill Parker e C. C. Beck
Este álbum preencheu uma boa parte do meu imaginário infantil. Lembro-me de que ainda estava na primária quando o recebi. A capa, estranha, o piloto de espada na mão em luta com um cavaleiro medieval embuçado e envergando uma cota de malha; a vinheta do frontispício, três bólides subindo uma rampa em direcção a um castelo penumbroso, causava também sensação... Mas as duas primeiras pranchas eram do mais trivial Vaillant: uma panorâmica do circuito de Nurburgring, Michel Vaillant e o inevitável Steve Warson no meio de ases do volante da vida real e o deslumbramento um bocado cabotino de Jean Graton pelo glamour dos circuitos. Salvam-se os carros (o Mercedes descapotável da menina que aparece na última vinheta da prancha 2 justifica-se, como se verá), mais as características onomatopeias dos motores a rugir: VROOAP VROOAP !...

A figura do Barba Ruiva exerceu sempre sobre mim um fascínio a que não foram alheios o traço de Victor Hubinon e a destreza narrativa do grande Jean-Michel Charlier. Apesar disso, o poder caricatural duma certa dupla Albert-René foi tal, que não consigo pegar num álbum de aventuras do comandante do «Falcão Negro» sem que me venha à memória aquela angustiosa interjeição: «Os gau!... Os gaugau!...»
Em cenário edénico, surgem saltitando, quais efebos, Dany & Greg, os autores, envergando túnicas alvas e louros na cabeça; o primeiro, de paleta de cores na mão e pincel em riste, o segundo de pena em riste e folha branca na mão. Inspirados pela envolvente de paraíso das Escrituras -- árvores e flores viçosas, quedas d'água marulhantes e passarinhos a chilrear --, preparam-se Dany & Greg para dar início à narrativa, o que sucede apenas na última vinheta da prancha #1: um violento directo de boxeur -- BAF! -- no queixo do pugilista oponente... Trata-se de Kid Cahot, agora em knockout, transportado em maca pelo entourage aflito, em meio à vaia monumental do público. Já não é o primeiro KO; mas, estranhamente, Cahot, sem sentidos, é representado com um sorriso beatífico.![]() |
| fonte: http://www.salimbeti.com/paperinik/en/paperino.htm |
Uma só vinheta na prancha inicial: um entardecer caminhando para o lusco-fusco, paisagem que parece situar-se no noroeste americano, assim o denuncia a vegetação. Em plano geral sobressaem cumes elevados e, em baixo, ainda distante, centrado e avançando na nossa direcção, um daqueles carros de que se compõem as míticas caravanas do colonos que deram corpo ao destino manifesto. Há uma envolvente dramática, um clima tenso e triste, soturno e pesado, que a chuva mais acentua e assombra.
«Sou o Oceano Pacífico e sou o maior». No meio do Pacífico, após fera tormenta a desmentir o nome do grande mar, um catamaran pejado de piratas das Fiji, capitaneado pelo desertor Rasputine, avista, o mar ainda revolto, uma chalupa de náufragos.
Um mapa centrado no Indocuche,
abre a primeira prancha de O
Avião do Nanga (1987),
de René Sterne (1952-2006). O nome desta cordilheira afegã tem uma
sonoridade com o peso de séculos, tempo que lhe empresta uma aura de
terra mítica ou inventada, uma Camelote, ou coisa assim. E no
entanto, o Indocuche existe; e ao contrário doutros topónimos
congéneres – Cartago, Bagdade, Samarcanda, Timbuctu... – , cujo
prestígio lendário pretérito não aguenta o confronto com a
realidade presente, o Indocuche, por onde passou um raio chamado
Alexandre o Grande e hoje brotam talibãs como as papoilas
autóctones, persiste em desinquietar-nos, como uma vinheta de
Hermann para um argumento de Greg...
Um panorama geral nocturno do Museu Nacional de História Natural, em Paris, por baixo a galeria de paleontologia. Hoje, 2013, um museu dentro do museu. (Eu já lá estive, e até me deparei com a vera efígie da especiosa Adèle Blanc-Sec). Estamos, porém, a 4 de Novembro de 1911. São onze e quarenta e cinco da noite. O ambiente é soturno. Tardi aproxima-nos, vinheta após vinheta, de um «Ovo de pterodáctilo (Fim do Jurássico) 136 milhões de anos. Ovo que começa a apresentar fissuras, para irromper na segunda prancha, dentro de uma vitrine que, ao quebrar-se nos prega um susto e faz lembrar uma outra, do arrepiante Rascar Capac (As Sete Bolas de Cristal). Adèle e o Monstro, pranchas 1-2.