O
pastiche e a paródia, sobretudo em forma de homenagem, é uma
prática comum em BD. Talvez o melhor exemplo seja a brincadeira de
Uderzo e Goscinny com o pirata Barba Ruiva e tripulação, que
vogavam nas páginas da revista Pilote, onde Jean-Michel
Charlier e Victor Hubinon faziam publicar as aventuras do bucaneiro
do 'Gavião Negro', as mesmas folhas que davam guarida a Astérix. E
tão bem sucedida foi a graça, que os piratas recorrentemente postos
a pique nos álbuns do pequeno gaulês se tornaram mais conhecidos
que as personagens originais... A paródia pode mesmo constituir-se
como subgénero: na revista Mad tem aí um dos seus pratos
fortes; no mundo franco-belga, está nas bancas, inclusive em edição
portuguesa, a bem sucedida charge a Blake e Mortimer, As
Aventuras de Philip e Francis, de Nicolas Barral e Pierre Veys.
O pequeno
volume da colecção «Quadradinho» #16, da autoria de Miguel
Abrantes (Lisboa, 1960) e Miguel Rocha (Lisboa, 1968) é um
despretensioso exemplo destas recriações. Título e capa remetem de
imediato para as personagens de E. P. Jacobs: o primeiro é um
divertido achado, combinando O Enigma da Atlântida e
A Armadilha Diabólica; o protagonista inominado, com
barba passa-piolho, lembra o Prof. Mortimer, enquanto que o
vilão não é o Coronel Olrik, mas um certo Conde Moloch, com
acentuados traços do insano Joker, deslocado de Gotham para o lugar
de Orelhos, onde se situa o solar lúgubre em que decorre a acção;
em perigo e a pedir salvação, uma frágil jovem parecida com Adèle
Blanc-Sec. Melhores os desenhos que o texto, mas o conjunto
funciona.
O
Enigma Diabólico (Associação Salão Internacional de
Banda Desenhada do Porto, 1998)
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