Jacques
Tardi (n. 1946) é um dos mestres da banda desenhada europeia,
um estilo único; mais do que herdeiro da linha clara de Hergé
e Jacobs, foi alguém que a transfigurou, tornando-a marca pessoal
imediatamente reconhecível. Neto de um soldado das trincheiras, a
Grande Guerra é um tema obsidiante neste autor, que, logo no
verso do frontispício, avisa-nos ao que vem: «Tenho a
impressão de que não podemos fugir à guerra. Mesmo nós, mesmo
hoje. / A guerra que mostro não é mais que o décor de 14-18, os
uniformes. / Acho que continua actual, o que me inquieta.» Neste
álbum, com argumento do romancista Didier Daeninckx (n. 1949), a
insanidade da carnificina do conflito mundial de 1914-18 aparece
carregada na sua crueza pela utilização magistral do preto e
branco, com terra e carne humana retalhadas pelos projécteis
arremessados por todas as bocas de fogo, abrindo crateras
no lamaçal da Flandres. Duas vinhetas por página são quanto basta
para a respiração do texto de Daeninckx: «Uma tonelada de pólvora
da casa Krupp destruiu tudo: os mortos, o pelotão, a pocilga onde
nos tinham fechado.» A trama, sendo simples, é rica, explorando os
quiproquós em que a comédia humana é fértil, aqui exponenciados
pelos desencontros da guerra, à rectaguarda: o hospital de
campanha, o bordel, os desertores com destino marcado. (Edições
Polvo, 2001)
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