Desde logo, as características da personagem,
herói moderno com virtudes antigas: Tintin é corajoso, é leal, é intrépido, é
justo, é compassivo e é casto. E deve acrescentar-se a mestria de Hergé: um
engenho aprimorado da narrativa, misturando o apelo da actualidade com uma
visão humanista e um apurado sentido do gag.
Milu é a perfeita personagem adjuvante, função que mais tarde repartirá com o
Capitão Haddock.
Todas
essas qualidades aparecem em Tintin no
País dos Sovietes. Sim, é um trabalho dum jovem, mas o talento já se
manifesta, apesar das puerilidades e da influência do catolicismo reaccionário.
Se as pranchas são vulgares quanto à disposição das vinhetas, estão bem
conseguidas no dinamismo da composição, contribuindo com eficácia para o ritmo
vertiginoso da narrativa, nas suas 137 folhas: na segunda prancha deparamos com
o primeiro vilão e a primeira explosão; na terceira, a primeira detenção; na
quinta, a primeira cena de pancadaria e o primeiro disfarce; à sexta, a
primeira perseguição automóvel…
Obra
de propaganda, é verdade, mas se pesquisarmos os delírios propagandísticos que
se seguiram, veremos que Tintin no País
dos Sovietes é mesmo aquilo que é: uma brincadeira de crianças.
Texto e desenhos: Hergé
Difusão Verbo, Lisboa, 1999
Sem comentários:
Enviar um comentário