Os primórdios das séries de ficção científica em BD situam-se muito depois de escritores como Júlio Verne ou H. G. Wells encerrarem o século XIX anunciando a miríade de caminhos possíveis para as estrelas. Buck Rogers, em 1929, através do traço de Dick Calkins, a partir de um conto de Philip Francis Nowlan, é o primeiro a ganhar as páginas dos quadradinhos. Segue-se Brick Bradford, o herói do livro de hoje, com argumento de William Ritt (1902-1972) e desenhos de Clarence Gray (1901-1957). Nenhum dos dois porém atingirá a aura de Flash Gordon (1934), de Alex Raymond, um dos maiores nomes da 9.ª arte. Lermos um Brick Bradford com os olhos de hoje, esquecendo que os comics eram puro entretenimento publicado nas últimas páginas dos jornais e destinado a todos os públicos, pode ser um exercício de masoquismo, tal o tom naïf e hollywoodesco do argumento. No entanto, Bradford faz parte de um processo que culminará, por exemplo, com uma notável série francesa, madura e complexa, como Valérian (1967), dos franceses Jean-Claude Mézières e Pierre Christin. Brick Bradford está dentro da que é tida como a idade de ouro dos comics americamos (1929-45), devendo-se-lhe também a consolidação de um género nos quadradinhos, sempre apelativo: o das viagens no tempo.
Nesta altura, as narrativas sequenciais sucediam-se indefinidamente, dia após dia, semana após semana, consoante se tratasse de tiras ou páginas dominicais. Chegada a altura de reuni-las em revista ou álbum, era inevitável os referentes narrativos estarem alhures. Por exemplo, Rota é uma "princesa imperial" caída em desgraça e abandonada numa ilha deserta, sem que se saiba a razão. (Uma edição actual traria um resumo do que se passara até aí). Tal como Buck Rogers e Flash Gordon, estamos diante de um trio herói-donzela-sábio. Brick Bradford é um protótipo, pela atitude, do que viria a ser um super-herói. Não tem superpoderes, apenas intrepidez e coragem, e monta ainda a cavalo – o "Chama" –, embora viaje pelo espaço e pelo tempo, graças ao domínio de um elemento chamado "Timex"... Estes périplos recorrentes são um dos atractivos da série: homens de um amanhã longínquo de crânios gigantescos e corpo reduzido (ainda na última semana trouxemos ao "Abecedário" o Esquálidus, de Floyd Gottefredson...), evoluindo dentro de uma bolha, que encerram também as cidades; além de anacronismos sempre saborosos: aztecas e naves espaciais, pilotos com farda tardomedieval, e por aí fora. O cientista amigo de Brick é o bonacheirão Doutor Dramaticus, com aspecto de bonzo tibetano. Sendo amigo do herói é adversário da heroína coadjuvante, deixando o primeiro numa situação desconfortável, embora não hesitante. A(s) história(s) datam de 1945: uma incursão no "hemisfério perdido" (a América), dominado por insectos gigantes, seguindo-se uma perseguição pelo futuro a culminar no ano 1001945 (!)
Brick Bradford
texto: William Riit
desenhos: Clarence Gray:
edição: Editorial Presença, Lisboa, 1976
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