Thomahawk
Tom é uma curiosa personagem da BD portuguesa, criada por Edgar
Caygill (!), cujas aventuras foram publicadas no Mundo de
Aventuras, Condor
e Jornal do Cuto.
Cowboy mestiço, filho de uma cheyenne, tem todas as
qualidades do herói positivo; sem defeitos, seria figura demasiado
plana, não fora essa miscigenação étnica que permite o contacto
entre os dois maiores antagonistas deste universo: os colonos
invasores europeus, secundados pelo exército norte-americano e as
nações indígenas. A dupla pertença é-lhe, aliás, constantemente
apontada, normalmente sob a forma de insultos, como “meia-casta”,
a que ele normalmente dá de ombros, com fleuma. Acompanha-o Jacky,
um adolescente resgatado ainda criança num acampamento em que
decorrera o massacre dos progenitores perpetrado por índios.
Este
‘Caygill’ é um pseudónimo conjunto de Roussado Pinto
(1926-1981?), um dos figurões do pulp lusitano
(o célebre Ross Pynn), e do seu desenhador, Vítor Péon
(1923-1991), um dos nomes de referência dos quadradinhos portugueses
em meados do século passado.
Em
O Regresso de Tomahawk Tom – Tempestade em Dakota Sul,
Péon encarrega-se também do texto. A história aborda os normais
tópicos do western: neste caso, o início da construção da linha
férrea transcontinental, ligando os Estados Unidos costa a costa; a
primeira a concluir o traçado que lhe fora cometido, ganharia um
prémio atribuído pelo governo. Pistoleiros e tiroteio, sabotagem,
ciladas, caçadores de bisontes, índios Sioux, a Cavalaria, todos
estes motivos de coboiada aqui comparecem. A fuga ao cliché, para
além da condição étnica do protagonista, é a circunstância de
tratar-se de um indian friendly western,
consagrado já noutras partes e media,
como no cinema, maxime
O Soldado Azul (1970),
de Ralph Nelson, com a inesquecível música de Buffy Sainte-Marie.
A
narrativa é fluida e o desenho extraordinariamente dinâmico, não
sendo perfeccionista. No geral, estamos uns furos abaixo de um
Blueberry a que Péon,
em nossa opinião foi beber, ou não considerasse Jean Giraud, num
pequeno ensaio que escreveu, como “um dos maiores, senão o maior
autor de B.D. 'Western' […]
não só da Europa, mas também da América» (A Banda
Desenhada como Arte, 1979).
Edição
do autor, com uma tiragem de dez mil exemplares, foi um flop
comercial, inviabilizando outras séries que Péon aí anunciava:
Sax, um corsário com
paixão pela leitura, e o Reverendo Benedict Jr.,
cujas frases heterodoxas prenunciam as tiradas do nosso já conhecido
Undertaker: “Será
mais fácil a un homem justo passar pelo fundo de uma agulha do que a
um homem mau escapar à mira do meu Colt!!!”
Escorreita
BD western, O Regresso de Toamahawk Tom
tem certamente um lugar numa biblioteca básica da BD portuguesa.
O
Regresso de Tomahawk Tom – Tempestade em Dakota Sul
texto e desenhos
de Vítor Péon
edição do
Autor, Lisboa, 1975
Foi no jornal do cuto que descobri o "cow-boy", mas agora ando a ler o Condor Popular, que a par do Ciclone, foram os meus primeiros livros de BD. eram mais baratos do que os outros, que se vendiam emm meados de 60.
ResponderEliminarAbaço!
No meu caso, era o "Falcão", já nos 70...
EliminarOutro abraço