Personagem
criada por Greg e William Vance em 1967, sob os auspícios da Guerra
Fria, Bruno Brazil, homem de missões impossíveis, agente do WSIO
(World Security Internacional Office), chefiado pelo Coronel L.
(Lazarus D. Walsh), aparece ainda muito ligado aos clichés
jamesbondianos; cedo, porém, vai largando os lugares-comuns da
espionagem, com as narrativas a decorrerem num páthos
de angustiosa conspiração e contornos mais difusos, em que a
política dos dois blocos é “apenas” o cenário em que tudo se
move. Um dos atractivos da série é a chamada “Brigada Caimão”,
um comando que Brazil lidera, constituído por elementos de inusitada
ou duvidosa proveniência, artistas de circo, cadastrados,
vigaristas...
Greg
e William Vance são dois dos maiores nomes da BD franco-belga.
Referi-los é o mesmo que nomear Achille Talon, Bernard
Prince, Bob Morane,
Comanche, Olivier Rameau; XIII
– e até Spirou e Fantásio,
e Tintin (o argumento
de Tintin e o Lago dos Tubarões
pertence a Greg); ou Marshal Blueberry,
desenhos de Vance, a convite de Giraud, que assegurava os argumentos
após a morte de Charlier.... Pegar numa série emblemática, saída
das mãos de autores deste coturno é sempre um risco, daí que não
haja propriamente avanços, ou talvez seja ainda cedo para tal.
Quando Greg se tranfere para os Estados Unidos, assegurando a
direcção local da editora Dargaud, precisou acalmar a produção
infrene que a imaginação lhe oferecia. Por isso, em Tudo
ou Nada para Alak 6 (1977) faz
dizimar metade da Brigada Caimão, numa missão em Madagáscar, o que
dá aos autores destas Novas Aventuras de Bruno Brazil
ensejo a não deixar tudo na mesma, mesmo mantendo fidelidade ao
cânone.
Laurent-Frédéric
Bollée (Orleães, 1967) situa o tempo da acção nos meses após a
carnificina naquela grande ilha do Índico. A tragédia está ainda
fresca neste primeiro álbum, intitulado Black Program.
Bruno faz psicanálise; mas o Coronel L. depara-se com o
desaparecimento (ou fuga?) de um cientista da Nasa, autocobaia da
expreriência de injecção no próprio ADN de gigas de informação
sensível, circunstância que faz dele uma base de dados
classificados ambulante. A segurança do estado requer a recomposição
do que sobrou do comando: Gaucho Morales, alguém que gosta de viver
a vida, mesmo que de forma pouco ortodoxa, o único que parece ter
saído incólume da catástrofe, a palpitante Whip Rafale, agora
paraplégica, e o problemático Tony o Nómada, trupe de
pós-traumatizados com que Bruno Brazil terá de contar. Philippe
Aymond (Paris, 1968) é um desenhador de méritos firmados, co-autor,
de Lady S., outra
série em torno de serviços secretos, com argumento de Van Hamme, e
passagem por Lisboa. Aymond não se “livrou” totalmente de Vance,
mas tem estofo para tal. Os dados estão assim lançados, e, entre
mistérios, traumas, atentados e dramas pessoais, sabemos ainda muito
pouco ao fim deste primeiro tomo. À boa maneira das revistas
semanais de BD, (continua), pois claro!
Bruno Brazil –
Black Program – t.1
texto: Laurent
Frédéric Bollée
desenhos:
Philippe Aymond
edição: Le
Lombard, Bruxelas, 2019
edição
portuguesa: Gradiva, Lisboa, 2020
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