As
terras têm o seu património, natural, etnográfico, arquitectónico.
O legado literário em geral dá-lhes, porém, mais densidade.
Amarante, com Pascoais, Vila do Conde tem Régio e o irmão
Júlio/Saul Dias, Rio Maior e Ruy Belo, a Vila Franca de Xira de
Alves Redol. Oliveira de Azeméis tem Ferreira de Castro, e a
autarquia editou, no ano seguinte ao centenário do seu nascimento,
uma BD para as crianças, da autoria do conterrâneo Manuel Matos
Barbosa (1935), um nome do cinema de animação e do documentarismo.
Castro
tem excesso de biografia: aos 12 anos emigrou sozinho para o Brasil,
sendo enviado para um seringal na Amazónia. Dessas experiências
extrairá matéria para dois extraordinários livros, que irão
renovar o romance português, abrindo portas ao neo-realismo:
Emigrantes (1928) e A
Selva (1930). Porém, verdadeiro
escritor, não se ficaria por aqui: Eternidade
(1933) encerra um fundo existencialista numa narrativa de cunho
social; A Lã e a Neve (1947),
friso romanesco que é talvez o seu romance mais perfeito; ou A
Missão (1954), uma novela que é
uma jóia de problematização psicológica.
Como
se fosse pouco, este autodidacta, foi durante décadas o escritor
português mais traduzido, duas vezes proposto para o Nobel da
Literatura, entre muitos outros factos que aqui não cabem. Mas o
cerne dessa vocação está na primeira infância, na aldeia natal de
Ossela, e Matos Barbosa, com um traço límpido e tons suaves, foi
feliz em mostrá-lo.
O
José Foi à Escola
texto
e desenhos: Matos Barbosa
edição:
Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, 1999
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