quinta-feira, 5 de setembro de 2019

BDteca: Alan Moore & Brian Bolland, BATMAN -- A PIADA MORTAL (1988): cara e coroa

          Os super-heróis aparecem nos anos 30, como reflexo da ausência de resposta satisfatória das autoridades à criminalidade. Espécie de vigilantes mascarados, operam ao lado ou à margem da lei, perseguindo delinquentes aterrorizados, o que lhes dá uma aura no imaginário popular com a qual um Dick Tracy não pode competir.
            Batman pertence a esse universo, mas tal como os seus colegas mais interessantes (Fantasma, Homem-Aranha, Demolidor) é demasiado humano. Em A Piada Mortal / The Killing Joke (1988), Alan Moore foge ao modelo maniqueísta do herói vs. vilão: o Joker, arqui-inimigo e personagem central desta história, ganha o estatuto de uma espécie de duplo do homem-morcego, cara e coroa de uma mesma moeda. Narrativa impecável, flui em dois planos: o da actualidade – a fuga do Asilo Arkham e a perseguição levada a cabo pelo caped crusader, em que o Joker faz todo o mal para ser encontrado; e uma acção pretérita que nos conta a origem do criminoso, presenciada pelo Batman. À subtileza do argumento junta-se o desenho superlativo de Brian Bolland: nunca o Joker pareceu tão horrível e tão frágil; e o Batman, saído há 80 anos do lápis de Bob Kane, está terrivelmente espectral, ao nível dos melhores artistas que o serviram, a começar por Neal Adams. (Editora Abril, São Paulo, 1988.)


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