quinta-feira, 14 de maio de 2020

os pássaros não olham para trás

Se há assassinos profissionais por conta dos estados, justamente execrados, há também os outros, indecentemente engravatados, que oprimem os povos e lhes levam a guerra. Uns, pela chamada razão de estado, fazem uma terraplanagem em territórios hostis, como sucedeu com os russos na Tchetchénia; outros, quando não há razão nenhuma, inventam-na, e aqui o cadastro dos americanos é imbatível. E há as guerras mais ou menos “civis”, instigadas de fora, como é o caso dramático da Síria.
Não se apagará da memória deste leitor de BD a imagem, emitida por um telejornal, de uma menina dos seus 10 ou 11 anos, num mercado de Damasco, a mão dada à mãe, estremecendo de cada vez que, ao longe, explodia uma carga lançada por um obus. As crianças são as principais vítimas da guerra, continuam a sê-lo neste momento nos campos de asilo espalhados por aí, à mercê de todo o tipo de predadores que aparentam ser pessoas. Calcula-se que cerca de um quarto do número total de refugiados, muitas sem adultos que velem por elas.
Nadia Nakhlé, realizadora de cinema de animação e autora de BD, conta-nos, numa novela gráfica com um desenho deslumbrante, a história de Amel (“esperança”, em árabe), que aos 12 anos, depois de perder os pais, tem de abandonar família, casa, terra para fugir à guerra. Os avós confiam-na a uma família que a faça chegar à Europa, para sua salvação. Esta surge sob a forma de um ex-soldado, tocador de oud, também ele em fuga. Les Oiseaaux ne se Retournent Pas, Delcourt, Paris, 2020.


2 comentários:

  1. Subscrevo as duras realidades do seu texto.
    É um mundo cruel e injusto,sem dúvida.
    Bom fim de semana se possível, num tempo tão difícil.

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    1. Obrigado pelo seu comentário, Maria.
      Também para si.

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