A
história do Tio Patinhas, criação extraordinária de Carl Barks,
inspirada na personagem de Dickens, Ebenezer Scrooge, foi contada
como ninguém por Don Rosa. Agora os estúdios italianos oferecem as
origens da fortuna do “Zio Paperone” relatadas por ele mesmo.
Reunido com a família na quinta da Vovó Donalda, Patinhas conta a
história de cada um dos seus milhões, esses que os Metralhas
desesperam por deitar a mão, a salvo na famosa caixa-forte de
Patópolis… Todos
os Milhões do Tio Patinhas,
texto
de Fausto Vitaliano e desenhos Paolo
Mottura, Stefano Intini, Giampaolo Soldati, Paolo De Lorenzi,
Giuseppe Della Santa, Lorenzo Pastrovicchio e Marco Palazzi.
por vários artistas, editado entre nós em 2015, pela Goody, conhece
agora uma nova edição da Panini, em português do Brasil.
sábado, 30 de maio de 2020
Patinhas
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domingo, 24 de maio de 2020
«O Covil de Wolf Barker»
Mickey é fruto de um
desaire. O estúdio de animação de Walt Disney (1901-1966)
produzia, desde 1927, para a Universal, os desenhos animados do
Coelho Osvaldo. Um diferendo fez com que Walt perdesse os direitos
sobre a personagem, que foi entregue a Walter Lantz (1899-1994), o
futuro criador de Woody Woodpecker (o Pica-Pau).
Ub
Iwerks (1901-1971), que estivera também na criação do coelho, dá
o lápis a um rato imaginado por Disney, estreando-se em 1928 nos
cinemas com a curta-metragem Plane Crazy.
Um sucesso retumbante teria de levar Mickey aos comics,
tal como sucedera já com outro clássico, o Gato Félix – criado
em 1919 por Pat Sullivan e Otto Messmer –, então mais célebre.
Tanto, que Monteiro Lobato fá-lo aparecer numa história do Sitio
do Pica-Pau Amarelo, em 1928, e,
no ano seguinte, Almada Negreiros executa um baixo-relevo que hoje
pode ser visto no Centro de Arte Manuel de Brito, em Algés.
Desafiados pela
King Features Syndicate, os criadores asseguram as primeiras tiras,
mas cedo passam a tarefa a Floyd Gottfredson (1905-1986). Com ele,
Mickey transforma progressivamente uma personagem cómica num
carácter melhor delineado, herói íntegro cuja idealização já
foi observado dever-se a uma ética mormon, religião professada por
Floyd. Este não apenas marcou a indelevelmente a série, na qual
trabalhou 45 anos, como criou algumas personagens marcantes:
Chiquinho e Francisquinho, Esquálidus, o Prof. Gavião e, maxime,
o Mancha Negra, entre outros.
O
livro de hoje traz-nos três histórias: O Covil de Wolf
Barker (1933) é a primeira
narrativa de largo fôlego deste rato boa-praça, em co-autoria, no
argumento, de Ted Osborne (1900-1968). Ausente no estrangeiro,
Mortimer, tio de Minnie, pede a Mickey que tome conta do seu rancho
no Oeste, onde cria cabeças de gado. O convite é acolhido com
entusiasmo pelo casal de ratos e seus amigos: Horácio e Clarabela, a
que se junta o Pateta, ainda muito incipiente e secundário, pois
fora criado no ano anterior, ainda sem direito ao nome original,
Goofy, mas a um igualmente cómico “Dippy Dawg”, um e outro
salientando o carácter trapalhão desta personagem, futuro
super-herói de capa e pijama, graças a uns super-amendoins...
História movimentada, em que Mickey tem de haver-se com um ladrão
de gado, o desenho é muito tributário das figuras arredondadas dos
filmes de animação; um prazer retro,
nomeadamente os muitos cavalos caprichosos desta coboiada...
Entremeado
por uma curta história de uma página, segue-se Os
Sobrinhos do Mickey, de 1932,
sucessão de gags de cortar a respiração, em que Chiquinho e
Francisquinho estão longe de ter o carácter atilado que viríamos a
conhecer. Uma nota curiosa: a arte-final foi feita por Al Taliaferro
(1905-1969), que cinco anos mais tarde, com Ted Osborne, irá criar
os sobrinhos do Donald, inspirando-se nestes de Mickey. E serão os
do pato, e não os do rato, que ganharão o epíteto de sobrinhos
por antonomásia...
Mickey
– O Covil de Wolf Barker
textos: Floyd
Gottfredson e Ted Osborne
desenhos: Floyd
Gottfredson
edição: Abril
Morumbi, Algés, 1990
«Leitor de BD», jornal i
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sábado, 23 de maio de 2020
western de saias
Se O
Covil de Wolf Barker
é um western em que o outrora mal chamado “sexo fraco” está no
seu lugar e é alvo de serenatas ou raptos, neste Hippolyte,
álbum assinado por duas mulheres, Clotilde Bruneau (texto) e Carole
Chaland (desenhos), a coisa fia muito mais fino. Numa cidadezinha
perdida no deserto do Arizona, em 1872, vivem 27 pessoas todas elas
mulheres e, literalmente mulheres de armas. O segredo da sua
sobrevivência reside na união, só assim podem fazer face aos
desperados
e outros indesejáveis que passam rente à porta. Desta vez foi um
abelhudo, um jornalista que terá o que contar. Terá? Uma recriação
do mito das amazonas, edição Glénat / Vents d'Ouest.
quinta-feira, 21 de maio de 2020
Zola
O
autor de Germinal
é um gigante do romance oitocentista. Como seria de esperar, obra
imensa e figura apaixonante – Polanski lembrou em J'Accuse
(2019) o heroísmo do escritor, que arriscou a pele em nome da
decência humana. Um corpus literário que tem fornecido o
audiovisual e também a BD. Ainda no ano passado L'Affaire
Zola,
um biografia por Chapuzet, Gravé e Girard (Glénat); já este ano,
dois romances conheceram adaptação: Pot-Bouille
,
ou a história de um arrivista, por Éric Staine e Cédric Simon (Les
Arènes) e Au
Bonheur des Dames (o
microcosmos dos grandes armazéns de moda e lar na apoteose da
burguesia), por Agnès Maupré, que a Casterman lançará em Junho.
quarta-feira, 20 de maio de 2020
segunda-feira, 18 de maio de 2020
sábado, 16 de maio de 2020
sexta-feira, 15 de maio de 2020
problemas de consciência
O pior que pode fazer-se a
alguém não é necessariamente matá-lo. Podemos infernizar a vida
de uma pessoa de tal modo – humilhando, coagindo, torturando,
violando – e podemos infligir danos psicológicos de tal forma
violentos que a morte não será mais do que uma libertação. No
entanto, como qualquer bicho, o ser humano, maioritariamente,
recusa-se a morrer e dispõe- se a qualquer barganha para obviar o o
enfrentamento do nada que adivinha ou teme.
Desde
sempre – das sociedades tribais às democracias ocidentais –
houve indivíduos a eliminar, em nome dum bem maior, a coberto da
tranquilizadora noção da “razão de estado”. Há momentos em
que tal é necessário para salvaguarda de um bem maior, como o é a
tranquilidade dos cidadãos, que não precisam de saber todo o mal
que os ameaça, sob pena de pânico e colapso generalizados. Para
isso existe o submundo dos serviços secretos com as suas conexões,
onde polpa o assassino a soldo, recrutado para execuções cirúrgicas
à margem da lei, também para não perturbar a boa consciência
cívica do cidadão. Uma consciência relativa, é certo, que não se
priva do seu móvel de madeiras exóticas da Amazónia, do creme para
barrar à base de óleo de palma, mesmo quando os orangotangos são
tão fofos, e muito menos do telemóvel ou smartphone, cujo cobalto é
extraído por crianças escravizadas pelos senhores da guerra na
África Central.
Estas
reflexões, embora nalguns casos partilháveis, não são deste
leitor, mas de Denis (acreditemos que assim se chama...), o
anti-herói solitário, sem escrúpulos ou problemas de consciência,
mas que, contudo, se interroga – para justificar-se e consolar-se
com a ideia de que afinal ele não é assim tão diferente do comum
dos cidadãos. Os longos monólogos que caracterizam a personagem são
dados com grande mestria por Matz (nom de plume bd
do escritor Alexis Nolent) e disposto na prancha, com
comprovada eficácia, por Luc Jacamon, os criadores da série, em
1998. O grande problema: este patife torna-se-nos por vezes
simpático...
Com
uma extensa folha de serviços, na Europa e América do Sul, O
Assassino encontra-se, neste
álbum número 14, numa cidade portuária francesa, em que um
assessor municipal trabalha para o suposto bem do seu concelho, de
dia, e controla o tráfico de cocaína de noite, com um à vontade
que faz suspeitar que outras forças mais poderosas o sustêm. O
homem não ganhou apenas poder; com uma rede alargada de contactos,
nem a polícia ou os tribunais o vêem; a impunidade é um facto, o
que é inaceitável para o... estado de direito. Há quatro meses que
o assassino tem por
disfarce um emprego numa grande companhia da região, a fazer contas
e mapas Excel. Discreto, talvez demasiado, sem vida social conhecida,
ideal para um assassino profissional a soldo do Estado, por portas
travessas. Talvez demasiado discreto; felizmente a coordenadora dos
Recursos Humanos está ali à mão...
Personagem
estranha, fisicamente pouco expressiva, este assassino
tornou-se uma personagem de referência.
Le
Tueur – Affaires d’État. T.
I Traitement Négatif
texto:
Matz
desenhos:
Jacamon
edição:
Casterman, Tournai, 2020
quinta-feira, 14 de maio de 2020
os pássaros não olham para trás
Se
há assassinos profissionais por conta dos estados, justamente
execrados, há também os outros, indecentemente engravatados, que
oprimem os povos e lhes levam a guerra. Uns, pela chamada razão de
estado, fazem uma terraplanagem em territórios hostis, como sucedeu
com os russos na Tchetchénia; outros, quando não há razão
nenhuma, inventam-na, e aqui o cadastro dos americanos é imbatível.
E há as guerras mais ou menos “civis”, instigadas de fora, como
é o caso dramático da Síria.
Não se apagará da
memória deste leitor de BD a imagem, emitida por um telejornal, de
uma menina dos seus 10 ou 11 anos, num mercado de Damasco, a mão
dada à mãe, estremecendo de cada vez que, ao longe, explodia uma
carga lançada por um obus. As crianças são as principais vítimas
da guerra, continuam a sê-lo neste momento nos campos de asilo
espalhados por aí, à mercê de todo o tipo de predadores que
aparentam ser pessoas. Calcula-se que cerca de um quarto do número
total de refugiados, muitas sem adultos que velem por elas.
Nadia Nakhlé, realizadora de cinema de animação e autora de BD,
conta-nos, numa novela gráfica com um desenho deslumbrante, a
história de Amel (“esperança”, em árabe), que aos 12 anos,
depois de perder os pais, tem de abandonar família, casa, terra para
fugir à guerra. Os avós confiam-na a uma família que a faça
chegar à Europa, para sua salvação. Esta surge sob a forma de um
ex-soldado, tocador de oud, também ele em fuga. Les
Oiseaaux ne se Retournent Pas,
Delcourt, Paris, 2020.
quarta-feira, 13 de maio de 2020
segunda-feira, 11 de maio de 2020
Lou Velvet
Com um ar nonchalant,
óculos escuros, barba de três dias, cigarro ao canto da boca,
raciocínio rápido, frases cortantes, Lou Velvet é um investigador
privado nos quadradinhos deste país; nome de guerra de um indígena,
que, a crer no próprio, em resposta repentista, bem pode encobrir a
estrambótica identificação civil de Laudemiro Cebola, pouco
consentânea com tão estilosa personagem. Estamos em crer que,
apertado pela Judiciária, a boca ter-lhe-á fugido para a verdade,
ou não fosse o criador (José Carlos Fernandes, Loulé, 1964) desta
criatura um homem do Algarve, região que disputa com a Madeira o top
de nomes inenarráveis da onomástica nacional... Laudemiro, pois,
transmudado no fúlgido Lou Velvet, homenagem a Lou Reed (1942-2013),
a quem dás ares, e aos Velvet Underground.
Tempos
houve, antes da pandemia, em que os lugares turísticos ficavam às
moscas durante a época baixa. Mesmo assim, o dono do Hotel Flor de
la Mar, contrata o luzido Lou para garantir a segurança dos poucos
hóspedes daquele hotel à beira-praia dum a estância balnear
algarvia, não nomeada, mas, muito provavelmente, Quarteira. Tudo
parecia prometer um tédio Covid-19, até chegar um grupo
excursionista sénior de associados do Clube de Remo de
Wilhelmshaven, velhotes pouco simpáticos sobre os quais recai, como
maldição a cumprir-se, um assassino que paulatinamente vai
eliminado-os. A PJ, aqui a fazer o papel de incompetente, toma-o por
suspeito número um, num interrogatório em que, quem dispara
provocações é o interrogado Lou. Este, felizmente, vê os
pundonores desagravados pela perspicácia de detective que põe as
mão na massa. O final não é surprendente, mas o relato termina em
vinheta digna de outras personagens modelares, cujo perigo é também
a sua profissão: Mortadelo e Salaminho...
Em
“(À suivre)”, Lou é contratado para fazer a segurança de um
festival de banda desenhada. Vêmo-lo, profissional brioso,
aprofundando os seus conhecimentos da matéria, folheando um volume
de “Le Déclic”, dum tal Marara. Aliás, Fernandes dá aqui vazão
ao gosto de brincar com nomes e palavras: de Moelius – quem não o
conhece? – a personagens como o Senúpe, Capitão Kadok, R. G.
Tantan Michel Vilain ou Raspa arqui-inimigo de um célebre marinhairo
de La Valetta. A verdade é que Lou falha redondamente a missão que
lhe foi confiada: diante dos nossos olhoos pasmos, desfilam os
cadáveres assassinados de Tintin, Spirou, Michel Vaillant, Obélix,
Lucky Luke, Castafiore grita e parte a loiça, até que é
demascarado um célebre rato, que não é o Mickey, vingando a
rendição de personagens outrora dignos aos ditames dos mercados,
esses vilões da vida real. Mas, felizmente, tudo fora um sonho
induzido por uma botelha de 'jack daniels'. Tudo acaba bem? Não!
Enquanto Lou se cozia de onirismos, oito “valiosíssimas pranchas
de 'Histrix, o gaulês'” haviam sido roubadas. Má sorte de
Laudemiro. Mas, se não foi o Mickey, quem foi assassino? Mire-se a
vinheta lá em cima…
texto e desnhos: José Carlos Fernandes
Edições Polvo, Lisboa, 1997
domingo, 10 de maio de 2020
Joaan Sfar
Desenhador compulsivo, homem dos sete ofícios, romancista, argumentista, realizador (Gaisnsbourg – Vida heróica, 2010), entre nós conhecido pela adaptação de O Priincipezinho e da série O Gato do Rabino, Sfar adaptou para BD o seu próprio romance, Le Niçois (2016). Jacques Merenda e a sua querida, Loulou Crystal, arrancam de Nice rumo a Paris, onde irá decorrer a Fashion Week. O plano é roubar as jóias de uma tal Kim Kestéchian. Edição Dargaud.
sábado, 9 de maio de 2020
BD checa
Jirí Grus, Dzian Baban e Vojtech Masek assinam um álbum de fantástico medieval. Pavel e Mkulas, servos de Sire Albrecht, nobre boémio do tempo do duque Ulrich (século XI). Deambulando por locais ermos nas margens dum bosque, descobre um alegado covil de um dragão. Locais de bestiário pressentido e evitado pelos aldeões, será a altura de dominar o medo e fazer frente ao animal demoníaco. Edição Casterman.
quinta-feira, 7 de maio de 2020
adeus ao alcatrão

segunda-feira, 4 de maio de 2020
a poesia dos quadradinhos - #8 José Pascoal
ALPENDRE
Aqui estou,
Aqui sou,
À sombra de sombras,
O carro de bois,
A albarda do burro,
O balouço na trave,
O cepo onde me sentava
A ler aventuras
De príncipes valentes,
Espadachins violentos,
Corsários coloridos,
Vaqueiros solitários,
Detectives privados,
Poetas do sol-posto.
José Pascoal, Branza, Lisboa, Editorial Minerva, 2019.
Aqui estou,
Aqui sou,
À sombra de sombras,
O carro de bois,
A albarda do burro,
O balouço na trave,
O cepo onde me sentava
A ler aventuras
De príncipes valentes,
Espadachins violentos,
Corsários coloridos,
Vaqueiros solitários,
Detectives privados,
Poetas do sol-posto.
José Pascoal, Branza, Lisboa, Editorial Minerva, 2019.
Príncipe Valente, por Hal Foster
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poesia
sexta-feira, 1 de maio de 2020
maravilhas
Por
suposta previsibilidade ou viver pouco suportável e inquietante
ansiedade, a realidade parece ser algo que não se nos adequa: das
cosmogonias genesíacas aos mitos fundadores, das ilhas maravilhosas
aos universos alternativos – o que é a Utopia,
de Thomas Moore senão uma e outra coisa? –, o homem nunca se
resignou aos limites impostos pela natureza e pelas circunstâncias.
O livro de hoje, Pandemonium à Paragusa,
que dá início às deambulações de duas novas personagens, Colt &
Pepper, situa-nos numa remota América do século XVII, e pertence
ao subgénero do maravilhoso com enquadramento histórico. A terra
fora colonizada por estranhas criaturas, vindas não se sabe bem de
que universo, muitas antropomórficas, outras com as suas
características próprias, mas a convivência de todos faz-se
naturalmente.
Samuel
Culpepper, “Pepper” para os amigos, é o capitão da guarda em
Paragusa. Militar maduro à beira de gozar as delícias da
aposentação, chefia as forças que protegem Domiciano, o “jovem
duque”, que ajudou a elevar ao poder, destronando o “velho
duque”. Mas há contestação e Pepper vê-se metido numa terrível
encrenca quando percebe que Coltrayne, filho de sua irmã, é um dos
jovens que se rebelam e pedem a cabeça do duque, auxiliados por
Ossus, o feiticeiro mais poderoso daquelas paragens. Evocando a
memória familiar, Pepper não hesita em salvar o sobrinho, pondo-se
fora da lei, a escassos dias da sonhada reforma. O álbum, primeiro
de uma série, decorre em três partes: das ruas, masmorras e salões
de Paragusa, a uma taberna frequentada por gente do mar, na aldeia
piscatória de Reed Cove, culminando no Bois de Bouleaux,
ou bosque das bétulas, onde é possível encontrar as almas dos que
já morreram. (Os bosques foram sempre tidos, nos tempos
pré-modernos, como lugares ameaçadores, coio de marginais, bruxas,
monstros e outras criaturas estranhas, lembremos os Irmãos Grimm…)
Para franquear a entrada, há que responder a um enigma do guardião,
resposta que terá de ser aprovada pelo irmão – uma criatura de
pesadelo que lhe está colada às costas.
Os
autores, a dupla croata Darko Macan (Zagreb, 1966) e Igor Kordej
(Zagreb, 1957), têm incursões bem sucedidas nos comics (do Incrível
Hulk ao Pato Donald, de Tarzan a Star Wars).
Na frente franco-belga, Macan e Kordej assinam também um western,
Marshal Bass, igualmente
publicado pela Delourt.
Tratando-se de uma
série, diremos apenas que o argumento de Macan se apresenta com os
ingredientes do maravilhoso: lugares malditos, lugares mágicos,
lugares comuns... numa narrativa em que homens e criaturas de todas
as formas interagem. O traço de Kordej espalha-se por mil e um
pormenores e torna-se deleitoso de ver num splash (prancha com
uma só vinheta), recurso utilizado para a abertura de cada um dos
capítulos: exímio como fisionomista, inventivo e generoso no
detalhe.
Colt
& Pepper – Pandemonium à Paragusa
texto: Darko
Macan
desenho: Igor
Kordej
edição:
Delcourt, Paris, 2020
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