segunda-feira, 13 de julho de 2020

«Kim Kebranoz e os Táxis Vemelhos»

Bento Torceferro” poderia seu uma tradução literal do nome da personagem de hoje, Benoît Brisefer; porém, o tradutor optou pelo mais sonante “Kim Kebranoz”, e está certo. “Torce” ou “quebra”, porque o nosso herói, apesar de miúdo educado e gentil, muito atilado em sua indumentária, calções pretos, casaco vermelho, cachecol e boina basca de que nunca se separa, é um inusitado detentor de superpoderes. Mais forte que Sansão, mais rápido que o Flash da DC, pulmão tão devastador quanto o de Éolo, deus dos Ventos, salta, quase em voo, como se usasse botas de sete léguas. Apesar de nunca ter crescido, desde que em 1960 apareceu nas páginas da revista Spirou, julgamo-lo também imortal, como o Super-Homem, tendo também o seu calcanhar de Aquiles, não a kryptonite, mas o vírus da gripe, pois quando se constipa, Kim Kebranoz volta a ser uma criança igual às outras; mas ao contrário dos super-heróis, não faz questão de ter identidade secreta, só que o seu melhor amigo e companheiro de aventuras, o Sr. Vicente, velho taxista e ex-músico de jazz, nunca presencia os feitos do rapaz, atribuindo-lhe os relatos à imaginação fértil.
O autor é Pierre Culliford (1928-1992), mais conhecido por Peyo, já então autor da bela série medieval humorística Johan et Pirlouit, de onde surgirão os Schtroumpfs, – duns e doutros também aqui falaremos. Assoberbado pelos compromissos com várias séries a cargo, irá socorrer-se do seu camarada Will (Willy Maltaite, 1927-2000), desenhador da série Tif et Tondu, que se encarregou dos cenários, em particular dos edifícios, ruas e jardins da Vila Girassol (Vivejoie-la-Grande, no original).
Em Kim Kebranoz e os Táxis Vermelhos, primeiro titulo, uma moderna empresa de rádio-táxis instala-se na localidade. O negócio é porém uma fachada para um golpe épico sobre os bancos e demais comércio de valores da Vila Girassol, além de arruinarem o pobre do Sr. Vicente com concorrência desleal e sabotagem. O plano seria perfeito, mas não contavam com o fenómeno Kim Kebranoz – ele bem tentara avisar os adultos, que obviamente não lhe ligaram nenhuma –, que porá todos os grãos de areia na engrenagem, conseguindo ainda, pelo meio de todas peripécias, fazer-se raptar, indo parar a uma ilha, quase deserta, do outro lado do Atlântico.
Um álbum infanto-juvenil na sua génese, hoje irresistível para a faixa de “todas as idades”, ou “dos 7 aos 77”, para citar o semanário rival... O talento de Peyo, o dinamismo das vinhetas, sulcando e desarrumando o alinhamento clássico em prancha é bom de se ver, a que devemos acrescentar a destreza narrativa “folhetinesca” da história em continuação, ao longo dos meses em que se foi publicando, cada semana terminando em suspense ou com um gag.
Acrescente-se a curiosidade de esta edição portuguesa, de 1962, com a chancela da União Gráfica, editora ligada à Igreja Católica, ocorrer no mesmo ano da publicação do original na Bélgica, pela Dupuis.

Kim Kebranoz e os Táxis Vermelhos
Texto: Peyo
Desenhos: Peyo e Will
Edição: União Gráfica, Lisboa, 1962

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